Faltavam quatro minutos para a meia-noite quando ela abriu a porta do elevador no andar de seu apartamento. No mesmo instante, a escuridão se fez. O que é isto? Faltou luz? De novo! É, apesar ou por estar agora morando no centro da cidade, muito seguidamente havia corte de luz. Por alguma proteção divina, ela nunca ficara presa no elevador. Essa é uma experiência que não queria vivenciar, embora já tivesse tido alguns pensamento sobre como seria.
Justo hoje, não havia pegado a chave de dentro da bolsa enquanto subia. E agora? Por que colocava tanta quinquilharia dentro de sua companheira diária. Com certeza, a coitada sentia-se sufocada com tudo aquilo. Bom, o negócio era exercitar o tato. Sim o tato! Ah, o tato... esse é um dos sentidos que quase não usamos no dia-a-dia, pelo menos, não conscientemente. Mas como viver sem ele, quanto prazer nos dá! Substitui o olhar, o ouvir e, até mesmo, o paladar, é só usar a imaginação! Lá vai a mão dela, tateando cada pequena coisa encontrada: o caderninho de anotações, a caneta, a carteira do dinheiro, a bolsinha de moedas, o pacotinho de lencinhos de papel, os óculos para ler, a carteirinha de cartões de crédito, o baton, o pó, a escova de cabelo, o talão de cheques. Onde está o molho de chaves do apartamento? Droga, havia esquecido que sempre colocava no bolsinho externo da bolsa. Lembrou: quando a cabeça não funciona, as pernas pagam. Aqui as mãos pagaram.
Acertar o buraquinho da fechadura! Tarefa bem difícil naquele breu que tomava conta de tudo. Lá vai o dedo indicador, enquanto o "pai de todos" e o polegar seguravam a chave, encontrada facilmente porque tinha uma ranhura num dos lados. Salva pelo tato de novo. Pronto, a porta estava aberta, e ela já estava em casa. Agora era entrar na cozinha, à direita, pegar o castiçal com a vela e a caixa de fósforos em cima da mesa. Sim, isso sempre estava ali para qualquer eventualidade. Como estava escuro! Ela tinha quase certeza de que não fechara as persianas quando saiu. Ups! a porta da cozinha fechada, ou melhor, chaveada? Parou! Seu coração batia mais forte, um temor começou a tomar conta de todo seu corpo. Ela esta tensa, ofegante! Tentou lentamente entrar na sala, mas esbarrou na cadeira de balanço. Por que estava ali? Empurrou-a para o lado deu um pequeno passo e...
"Parabéns a você, nesta data querida!
Muitas felicidades, muitos anos de vida!"
Muitas felicidades, muitos anos de vida!"
As luzes se acenderam! Ela nem lembrava, estava já de aniversário!
Olhou ao redor, pegou a bolsa e foi para o quarto. Já era tarde. Tinha de descansar!