A festa de casamento estava linda. Os noivos dançavam ao som da pequena orquestra com músicos amadores, amigos. A maioria dos convidados se empanturravam com as delícias salgadas e doces. Havia muita bebida, bebida boa e variada. A diversão transcorria solta e sem preocupações. Não havia celulares na época, as notícias, boas ou ruins, demoravam mais a chegar. Aproveitava-se mais serenamente os momentos.
De repente um homem, uma chamada ao canto, um desespero, um procurar a filha, um descer as escadarias do clube, um ganhar a rua e correr. Era quase meia-noite. Não havia ninguém pelas calçadas, as casas pareciam dormir. De tempos em tempos o chão clareava iluminado pelas luminárias. Às vezes, o espaço entre um clarão e outro tornava-se mais longo. O zelador dos postes havia esquecido de trocar alguma lâmpada queimada. As luzes falhavam, porém as passadas, não. Tinham pressa, tinham ansiedade, tinham... horror. Tinham de alcançar a próxima transversal, haviam percorrido quatro quarteirões e meio. Faltava pouco.
Chegaram, viraram à esquerda e entraram na rua da casa da avó. Tudo ficou muito claro. Parecia que se fizera dia. Um calor inesperado tomou conta das duas. Foram diminuindo o ritmo e, aos poucos o correr ansioso foi se transformando no caminhar pesado indeciso, medroso.
Havia muita gente. Da casinha de madeira em cujo jardim a menina gostava de brincar, nada mais sobrava. Enquanto a cabeça da mãe virava-se para todos os lados à procura da sua mãe, a menina, depois de soltar-se das mãos maternas corria por entre mulheres, crianças, homens, bombeiros, vizinhos, atrás da sua avó. Não demorou muito, encontrou-a sentada numa cadeira cedida por um dos moradores dos arredores. Ela estava sorridente, feliz, viva!