Perto da hora do embarque eu já estava a postos, tinha pressa, queria chegar ao meu destino. À minha frente, na fila para embarcar no ônibus, uma pequena mulher, magrinha, risonha, sim, sempre rindo, aquele riso que as pessoas envergonhadas expõem. Não tinha a maioria dos dentes. Enrugada, muito enrugada, cabelos em desalinho, mas presos. A aparência era de que não recebiam muita água e xampu. Xampu? Imagina! Pediu auxílio ao motorista que fiscalizava as passagens. Não ouvi, ela falava baixinho e rindo. A timidez era enorme. Dentro do ônibus, notei que estava perdida. Cheguei nela e perguntei se precisava de ajuda. E ela me confessou quase num sussurro, porém sempre com o sorriso desdentado, que não sabia ler. Mostrei-lhe o seu lugar e fui procurar o meu.
Sentei-me, ajeitei o pequeno travesseiro, que sempre me acompanha, na região da lombar, enchi de ar a almofadinha em forma de ferradura, coloquei-a no pescoço, tirei os óculos escuros, guardei na pochete que trazia colocada no ombro e atravessada no peito, certifiquei-me de que estava bem fechada, fechei os olhos e pronto: podíamos partir, tudo estava no seu lugar!
Isso era o que eu pensava. Para começo de conversa, a senhora, na janelinha, ao meu lado, resolveu puxar conversa comigo. Aqueles assuntos interessantíssimos e inusitados, tipo, clima, velocidade, paradas do ônibus. Epa! Eu não estava numa viagem direta? Não, não estava! Em poucos minutos teríamos uma parada numa pequena cidade, Santa Rosa, não à beira da rodovia, à direita, uns dez quilômetros para dentro. Tudo bem. Lá entrariam alguns, desceriam outros. Bem informada a minha companheira. Difícil era entender o que ela dizia. O sotaque não era meu conhecido, havia mais vogais do que o normal nas palavras, quase sempre um "u". Ela desembarcaria, não na primeira, mas na segunda parada. Meu Deus, teria mais uma parada. Tudo bem, quando ela descesse, eu tomaria conta do espaço.
No banco exatamente à frente do nosso, estavam sentados um rapaz e uma senhora, acho. Pelo menos as vozes deles me davam essa informação. Ele respondia, concordava, sempre com poucas palavras, para não dizer com meias palavras. Ela falava muito, e a sensação que eu tive, através das frases que chegavam aos meus ouvidos, é que ela tentava convencê-lo a seguir uma religião, um método, uma terapia, da qual ela era seguidora e dava garantias de que tudo mudaria para ele se a ouvisse. É claro que não desliguei.
Já tínhamos passado da primeira parada e chegado à cidadezinha onde minha companheira me deu adeus e sumiu em meio à poeira que subiu por causa dos pneus no chão batido. Tudo iria melhorar, pensei. Acomodei-me à janela, fiz todo o ritual para proteger a cervical, a lombar, enfim todos os acompanhamentos da tal da velhice. Abri a cortina de pano grosso e uma felicidade tomou conta do meu ser pela maravilha de paisagem que era possível apreciar. Suspirei fundo e senti um pontapé nas costas. Era a menina sentada atrás de mim que insistia em desobedecer sua mãe que a mandava não colocar os pés no banco da frente, o meu.
No banco exatamente à frente do nosso, estavam sentados um rapaz e uma senhora, acho. Pelo menos as vozes deles me davam essa informação. Ele respondia, concordava, sempre com poucas palavras, para não dizer com meias palavras. Ela falava muito, e a sensação que eu tive, através das frases que chegavam aos meus ouvidos, é que ela tentava convencê-lo a seguir uma religião, um método, uma terapia, da qual ela era seguidora e dava garantias de que tudo mudaria para ele se a ouvisse. É claro que não desliguei.
Já tínhamos passado da primeira parada e chegado à cidadezinha onde minha companheira me deu adeus e sumiu em meio à poeira que subiu por causa dos pneus no chão batido. Tudo iria melhorar, pensei. Acomodei-me à janela, fiz todo o ritual para proteger a cervical, a lombar, enfim todos os acompanhamentos da tal da velhice. Abri a cortina de pano grosso e uma felicidade tomou conta do meu ser pela maravilha de paisagem que era possível apreciar. Suspirei fundo e senti um pontapé nas costas. Era a menina sentada atrás de mim que insistia em desobedecer sua mãe que a mandava não colocar os pés no banco da frente, o meu.