sábado, 13 de novembro de 2010

Calados na calada da noite!

As rodas da camionete pareciam conhecer aquele caminho. Percorriam as curvas da estrada de duas mãos como se soubessem, até mesmo, o tipo de curvatura em cada trecho, a inclinação do terreno - para a esquerda, para a direita, em declive. Os faróis, numa cumplicidade única e calada, iam iluminando o asfalto, duro e firme, deixando para trás as sombras, os mistérios.
As mãos dele fugiam da direção e deslizavam pelos ombros, pelas costas, pela curva da cintura dela como se já a conhecesse.Os olhos azuis, como duas contas brilhantes, fitavam-na intermitentemente. Havia um misto de romance e de mistério no ar. Ela, calada, ia se envolvendo e se deixando levar naquele momento singular de sua vida.
Haviam se encontrado no restaurante do pequeno hotel de beira de estrada em que se hospedavam. Olho no olho, sorriso com sorriso, mãos nas mãos e, em minutos, estavam rodando, primeiro ao som da música, depois na cabine da camionete, velha, forte, sábia.
Não falavam a mesma língua, o silêncio dizia tudo. Nem uma palavra trocada, nem um nome dito, nem uma pergunta feita. Somente aquela energia incontestável, aquela atração indubitável.
Súbito, param! Descem do carro, e ele a conduz. Abre o portão e pede silêncio, fazendo o sinal conhecido: dedo indicador sobre a boca. Vão caminhando, sempre descendo e pisando num caminho de pequenas pedras. Entre as árvores, começam a aparecer bangalôs através de cujas janelas podem-se entrever casais jantando num, sentados em poltronas noutro, amando-se em mais outro, todos nus.Ela, não deixando transparecer sua surpresa e curiosidade, seguia seu condutor, confiando como se já o conhecesse há muito.
Passaram no meio de um mato bem fechado e... como se uma cortina se abrisse, lá estava o Pacífico. Era noite. As estrelas e a Lua iluminavam tudo. A noite abraçava aquele casal de estranhos, revelando a eles muita ternura. De pequenos lagos, formados pelas rochas, saía um vapor que denotava a temperatura da água.
Ele lentamente foi tirando-lhe as roupas sem macular aquele corpo que agora tremia, sem transparecer se era de medo ou de emoçao. As vestes dele foram sendo atiradas sobre as dela e ali no chão ficaram, abraçadas.Os dedos das mãos se entrelaçaram e como se tivessem num ritual, caminharam. Os pés descalços tocavam a terra fria, o arzinho frio da noite acariciava os seus rostos. Pararam diante de um dos laguinhos, ele entrou na água, e auxiliou-a a mergulhar também. E ali, o céu, as estrelas, a Lua, o mar e as rochas testemunharam o mais lindo ato silencioso de amor!
Em silêncio, saíram da água, vestiram-se, subiram de volta até onde estava ela, a camionete, outra testemunha. Percorreram as curvas de volta ao hotel, onde ao chegar, cada um foi para o seu quarto. Nunca mais se viram, nem mesmo no dia seguinte na sala do café da manhã. No coração de cada um, só a recordação!