segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Uma casinha branca

        Em meio à grande floresta, sem que se pudesse imaginar, achei um portão de madeira. Vi que ele fazia parte de um muro também de madeira, em ripas cruzadas. Abri, espiei e não consegui me controlar, entrei.
        Deparei-me com um lindo jardim. Não havia flores, talvez não fosse época das plantadas ali, mas o verde estava fresquinho, via-se que era bem cuidado. Fechei delicadamente o portão e olhei para as irregulares, mas lindas pedras brancas que formavam o caminho que ia dar no avarandado da casinha também branca. Casinha simples, pequena, de apenas a porta principal em sua fachada. Na varanda, cadeiras  de braço, aparentemente, confortáveis, também brancas.
        Dei início a caminhada, algo me fazia ir na direção dela.E, como se fosse criança, lembrando as brincadeiras que fazia quando pulava de pedra em pedra, avancei sem falar, sem fazer qualquer barulho, afinal não havia sido convidada a entrar. Uma incrível névoa de magia me cobria. Talvez pertencesse àquele lugar. Por outro lado, apesar de minha alegria e satisfação um cansaço estranho tomava conta de mim. E bem no meio do caminho havia um banco de pedra. Sentei-me e descansei observando a água que jorrava no chafariz do outro lado estradinha. No ritmo da água, meu pensamento foi a minha infância, percorreu minha vivência e chegou ao ali, ao agora daquele momento.
        Ergui-me com dificuldade e segui. A distância era menor, faltava pouco. Faltava pouco para quê? Eu não sabia. Coloquei o pé no piso da varanda, olhei demoradamente cada cadeira. Elas passavam a ideia de que nunca alguém sentara. Embora um cansaço indescritível e inesperado quase me derrubasse, fiz um esforço para me manter em pé e, principalmente, para me manter em silêncio, sem dizer um ai, o que estava difícil. Quando quase encostei no porta, as luzes das lamparinas começaram a piscar, e uma voz grave e aveludada disse: " Se passares desta porta, daqui não mais sairás. Teu caminho estará no fim!"
        Por alguns segundos, virei estátua! Aquela frase  "Teu caminho estará no fim." ecoava dentro de mim. Sem saber de onde me veio uma força e um ímpeto incontrolável, gritei: "Não!" e saí correndo, abri o portão e fui para bem longe daquele lugar.
        Hoje, anos depois, às vezes me pego pensando no que eu teria encontrado se tivesse entrado por aquela porta.