quarta-feira, 8 de março de 2017

As paciências da vida

      Aí tu fazes uma lista das atividades da tarde, planeja um roteiro geográfico, pois às dezessete horas tens de estar num dos tantos médicos que, na tua idade, tens de frequentar! Pega o carro e tenta chegar ao primeiro lugar! Opa! O que está acontecendo? O trânsito está caótico! Mas vamos lá, paciência! Olho o relógio e vejo que estou levando mais tempo do que levaria se tudo estivesse normal. Ligo o rádio. Notícia: manifestação de um grupo reivindicando mais segurança! Explicado e compreendido. Sigo! Em frente ao palácio do governo, e vai com letras minúsculas mesmo pois não está merecendo maiúsculas, trânsito interrompido. Faço a volta na praça lentamente e ao som de muita buzina! Não sabem que não adianta? Eu sei, é a raiva que é descarregada! Continuo, volto à rua de onde saí. Preciso achar um lugar para estacionar. Passo do ponto, não acho onde colocar o carro, faço uma volta por duas quadras, passo novamente por onde eu deveria ir e não consigo estacionar novamente. Vocês devem estar pensando: "Por que não usa um estacionamento pago?" Não dá! Vocês sabem o preço?! Olho o relógio. Desisto e toco para o segundo item da relação, que fica fora do centro da cidade, onde eu estava. O quê? Outra manifestação! Tudo bem, a gente tem de reclamar mesmo! Paciência! Uma tranqueira infinita ao som de buzinas! Ótimo programa. Mas tudo bem! Paciência! Coloco o cd do Erasmo Carlos que me tira de qualquer ansiedade! Canto, batuco na direção! Estou bem! Mas que horas são? Quatro! Não dá mais para ir ao segundo local. Preciso ir para o médico que é em bairro oposto. Mais uma vez, paciência! Faço tudo amanhã! Bate uma fominha. Troco o rumo e vou até um posto onde tem um lugar agradável para se fazer um pequeno lanche e fica no caminho. Consigo uma vaga e estaciono. Ufa! Milagre! Entro e solicito ao garçon o que queria. Trinta minutos se passam. Mas eu tenho paciência! Olho o relógio. Não dava mais tempo! Chamo o rapaz, melhor cancelar o pedido, mas ele vem com a bandeja. Vem tão faceiro! Faz a curva, para chegar a mim, de forma tão carnavalesca  que o copo com o suco tão desejado espatifa-se no chão! Aviso, delicadamente, afinal eu tenho paciência,  que não quero mais. Como rapidamente o sanduíche, ainda bem que não pedi quente,  e me dirijo ao caixa. Surpresa, o jovem desastrado não havia tirado o suco da minha comanda. Eu não tenho mais tempo. Paguei tudo! Chego ao consultório no horário. Maravilha! Ah, mas peguei a rabeira de uma das manifestações! Paciência! Sento frente ao meu médico, conto-lhe sobre minhas impaciências e ansiedades, pego as receitas dos anti-ansiolíticos e anti-depressivos e saio. Pago o estacionamento, naquela rua não tem onde estacionar, e feliz começo a retornar para casa, sabendo que no dia seguinte repetiria o roteiro, mas sem manifestação! Será? Levei uma hora e quinze para chegar a minha querida residência. Poderia ter ido até o litoral. Mas paciência!