segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Adversidades

Abriu a janela e saiu a voar! Como a Izmália, viu uma lua no céu, mas onde estava a lua do mar? Quis bater as asas, porém elas não lhe obedeceram, ou ela não as tinha? 
No delírio de seu sonho, investiu em busca da ajuda de um bando de andorinhas que tentava encontrar um refúgio para a noite. No entanto, elas passaram por ela, subiram acima de onde seus olhos podiam enxergar e sumiram. Foi conquistada pela luz que se acendera na janela de um prédio e para lá induziu sua queda. Chegando perto, a luz se apagou, e ela se perdeu no escuro da noite à procura do mar. Na ânsia de achar aquilo que sua mente desejava, deu um impulso para cima e para a direita e avistou, lá embaixo, uma ilha completamente verde de tantas árvores. E mergulhada na felicidade de estar perto da água onde veria sua lua, fechou os olhos e para lá se foi. 
Foi, foi e, quando seu corpo tocou as folhas frias, estremeceu de medo. Entretanto, um forte e inesperado vento a levou para o alto, para o meio de um vórtex, e deixou-a tonta... tonta de alegria. Todavia, uma força inesperada e estranha para ela a fez cair, Foi caindo, caindo. E, enquanto caía, via lua, estrelas, sol, nuvens. Uma chuva começou a molhar seu rosto e confundiu-se com as lágrimas que jorravam de seus olhos arregalados por um misto de susto, loucura e admiração. 
No jornal do dia seguinte, a manchete falava de uma moça que se atirara do décimo andar, onde morava!

domingo, 18 de novembro de 2012

Bem te vi!?

Bem te vi! Sim era esta frase que ele gritava insistentemente, embora eu não conseguisse descobrir onde ele estava. Às vezes parecia nervoso, sua voz saía trêmula e a repetia, rapidamente, várias vezes. Parecia que me via. Por quê? Por que não se mostrava, por que não dizia outra coisa além desta frase que, para mim, soava como uma belíssima declaração de amor: "Ainda bem que te vi!" Nunca alguém havia me dito que gostava de ter me achado. Nem sempre o som vinha do mesmo lugar, por isso eu pensava que ele se movia talvez para me deixar mais curiosa. E conseguia! Eu não aguentava mais de curiosidade. Seria um vizinho que me enxergara quando fui à janela? Poderia ser o tocador de flauta, ele sabia o quanto eu gostava de ouvi-lo, de repente estava me agradando. Ou será que eu tinha feito algo errado, presenciado pelo meu admirador que dizia: "Bem que eu te vi! Pensando bem, ultimamente, não tenho me comportado muito bem. Mas o que é não se comportar bem? Depende de cada um, e eu não acho que tenha cometido muitos pecados mortais. Não! Ele pode ter me visto em outro momento, em outro lugar! Pode ser um completo estranho que me seguiu e descobriu onde eu morava. Curioso! Depois que comecei a escrever ele não mais gritou. Estará sentindo a minha falta à janela? Mas não quero me levantar, estou com dor nas pernas, caminhei muito hoje pela manhã...não aguento este sono. Preciso dormir um pouco. "Bem te vi!" Opa! Ele veio acordar-me. Lá está ele, lindo, elegante e carinhoso, o meu bem-te-vi.

sábado, 10 de novembro de 2012

Meu vizinho!

O calor queimava as entranhas de nossos corpos. Eram quase nove horas da manhã de um novembro com cara de janeiro. Pegamos o elevador e, abanando-me com o jornal que havia recolhido do tapete na porta de entrada do meu apartamento, comecei a fazer minhas orações como sempre fazia. Sim, era no elevador que agradecia ao Senhor por mais um dia de trabalho. Na realidade, deveria rezar para que o elevador conseguisse chegar ao térreo sem nenhum problema. Ao terminar o sinal da cruz, um barulho horrendo tomou conta da cabina, tudo escureceu e o bendito parou. Esta não era a primeira vez que isso acontecia, mas era a minha primeira vez. Meu companheiro de viagem não dizia uma palavra. Confesso que aquela seria uma bela ocasião para fazer o que sempre me passava pela cabeça cada vez que nos encontrávamos. Nossa relação nunca passara de um "Bom dia", um "Até mais!" E só! Mas nos meus sonhos! Ah! nos meus sonhos! Quanta coisa acontecia entre nós dois! O engraçado é que tudo se passava dentro d'água. Sonho! Tentei dizer alguma coisa, porém senti-me tocada na altura dos seios. Não, tocada não, roçada. Sim, algo roçou meu corpo e foi adiante. Na sequência, ouvi a sirene de emergência. Ele a havia acionado. O silêncio já me incomodava mais do que a escuridão. Parecia que estávamos ali há horas. Então, decidi fazer barulho na tentativa de alguém me ouvir. Comecei a gritar e a sapatear. À medida que batia com os pés no piso do elevador, ouvia um som que lembrava a infância. Aquele barulhinho gostoso e prazeroso de quando saía com meus irmãos a correr pela calçada, pulando nas poças deixadas pela chuva. Como assim? Água dentro do elevador? Impossível! Conclusão: meu lindo, charmoso, tesudo e... medroso vizinho tinha feito xixi no elevador!

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Sonho!

Mãeeeeeeeeeeeeeeê! Eu tive um sonho engraçado, será que foi um pesadelo? Ando tendo uma coceira na cabeça, bem no tampão dela. À noite, quando estou tentando dormir, fico esfregando as unhas e puxando o cabelo até adormecer e esquecê-la. Mas nesta última noite, peguei no sono e, ao acordar, a sensação era de haver passado a noite toda em função da tal coceira. Hein? Já vou contar, mãe! Pois então, eu coçava tanto a cabeça que pedi para alguém olhar o que eu tinha. Não, mãe, acho que não foi você. Não sei quem me examinou. A pessoa, uma mulher, começou a abrir meus cabelos em mechas e dizia: Ai, meu Deus! Credo! O que é isto? Ao mesmo tempo, eu enxergava minha cabeça, meus cabelos repartidos, não sei como. Tudo muito engraçado, esquisito, enxerguei o tampão da minha cabeça! Fiquei surpreso porque havia pequenos ninhos, sim, minúsculos ninhos de passarinhos. Eu apertava a unha do dedão contra o dedo indicador na tentativa de arrancar fora os ninhozinhos, mas em resposta a minha ação surgiam deles miúdos beija-flores, tremendo as asinhas, tentando sair dali em busca de liberdade. Quer dizer, eu acho que queriam liberdade, afinal, não é o que os pássaros fazem quando começam a alçar seus primeiros voos, buscam sair livres pelos céus? O quê, mãe? Não, nada aconteceu depois, eu acordei. Mas essa história não sai dos meus pensamentos. Mãe, você pode me dizer qual o significado disso tudo? Não, eu não quero liberdade, quero ficar aqui com você para sempre. Sede? Ah! Pode ser. Os beija-flores estão sempre bebendo água, e eu estou sempre com sede! Lavar a cabeça? Ai, mãe, minha cabeça é limpinha! Ou não?