domingo, 16 de maio de 2010

Vai, menina

Desde pequenina chamou a atenção. Sempre sorrindo, parecia amar demais a vida e dar a ela um valor muito grande. Era mimada por todos. Seus cabelos lisos e longos tinham o brilho e a cor do sol em dia de verão. Na face, em cada lado, aqueles buraquinhos, chamados covinhas, graça de poucos. Foi crescendo e transformou-se numa bela mulher. Ficou vaidosa! Vieram os namorados, as baladas, as tentações. E lá entrou nossa menina num mundo de onde dificilmente se sai. Acabou construindo dentro dela outra menina, também loirinha, engraçadinha que pai não tinha. Apaixonou-se muitas vezes, perdeu muitos amores, uns por doença, outros por morte matada, talvez encomendada, não por Deus, mas pelos homens maus da Terra. A vida foi passando e sozinbha ela ficou. Morava só, vivia só, tomava decisões só! Numa noite de chuva, algo aconteceu, ...e ela morreu... só! Ninguém sabe como, ninguém sabe o porquê, ninguém sabe quem! Jazia fria, no chão frio! No rosto não mais se viam as covinhas, os olhos não mais se apertavam com o sorriso! As roupas, que tanto ela escolhia para vestir, agora estavam encharcadas e sujas!
Vai, menina! Segura na mão de Deus e vai!

domingo, 9 de maio de 2010

Mãe

Hoje encontrei com uma amiga que me relatou a história de um menino que costumava andar pelas ruas da cidade. Suas pernas finas e seus pés, protegidos apenas por chinelos gastos, levavam-no por caminhos longos e diferentes a cada nova manhã. Seu rosto de criança carregava um olhar pesado e triste, parecendo pertencer a um adulto sofrido. Seus cabelos louros enredados deixavam transparecer a falta de higiene e de cuidados. Era difícil definir a idade! Poderia ter doze, quinze, sete ou quarenta! O que ele fazia? Pedia, sim pedia em nome da mãe. Mas só se aproximava de senhoras. Ninguém jamais o vira dirigindo-se a algum homem.
Um dia, quando ele se aproximou de minha amiga, esta lhe perguntou por que a mãe não trabalhava e o sustentava em vez de mandá-lo para rua. Ele respondeu apenas que sua mãe não podia trabalhar e saiu caminhando.
Algum tempo depois, quando minha amiga se dirigia para a casa de um de seus filhos, viu ao longe o tal menino. Para onde estaria ele indo? Caminhava na calçada do cemitério. Minha amiga, então, estacionou e ficou controlando os passos do garoto que entrou num dos portões de ferro. Ele levava na mão uma flor. Minha amiga saiu do carro e o seguiu. O menino parou diante de um monte de terra com uma cruz em cima e colocou ali a flor. Maria me contou que, chegando perto, conseguiu ver a lágrima que escorria pelo rostinho sujo, deixando um filete de pele limpa. Disse que o menino virou e deu de cara com ela. Ao olhar um nos olhos do outro, um impulso, vindo não sabia de onde, fez com que se abraçassem. "É a minha mãe!" disse-lhe o garoto, apontando para a terra.
Hoje, aquele menino não mais perambula pela cidade, mora na casa de minha amiga e recebe o carinho da mãe que lhe faltou quando ainda era um garotinho de seis anos.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

...?

Lá vem ele!
Engraçado! Quantas vezes ele faz que vem, mas não vem; parece que vai chegar, porém, some como se não quisesse nada comigo. E eu me reviro, de um lado pro outro, na tentativa de alcançá-lo. Às vezes, ele vem de mansinho, enganando-me como se fosse um Don Juan inveterado. Fico desesperada na tentativa de consumir com esse desejo inexplicável e, fazendo uso de diferentes formas de matar o que me sufoca, vejo que nada me satisfaz, nada me leva aos braços dele.
No entanto, tem dias que, aos poucos, ele vai se chegando, vai tomando conta de mim e, sem que eu me dê conta de como aconteceu, já estou mortinha, aconchegada e feliz com os sonhos que ele me traz.
Lá vem ele! Vou ligeiro para cama antes que ele passe, e eu tenha de ficar rolando, rolando até que ele volte!

sábado, 1 de maio de 2010

Trem da infância!

Era já noite, e ela dirigia calmamente seu carro, quando se deu conta de que ouvia um ruído tão familiar e íntimo que se botou a olhar para todos os lados à procura do que trazia aquela sensação de passado. Olhando para direita, achou! Sim, lá estava ele, imponente, todo iluminado por dentro, seguindo o seu caminho, levando muita gente, sem digressões até a próxima estação. Era o trem que ligava a capital a outras cidades metropolitanas. Nunca havia passado por essa coincidência de andar paralelamente a ele. Os dois sempre passavam por aquela avenida: ela em seu carro, ele sobre os trilhos. E aquele encontro inesperado fez o coraçãozinho dela bater mais forte, como se fosse nele embarcar. Sim, coraçãozinho porque ela já se sentia de mãos dadas com sua mãe, parada na plataforma esperando a prima que também viajaria até uma cidade no interior, distante, hoje, apenas uma hora, mas que, na época, parecia muito longe. Era uma aventura! Ela e a prima iriam sozinhas! Era muita emoção! Na chegada ao destino, aquela tia gorda e fofa as receberia na estação e, na casa dela, as duas passariam as férias de julho. Nossa, quanta alegria, quanta brincadeira, quanto suco de uva feito em casa! Buzina! Upz! E de novo entrou no passado e ouviu sua prima lhe dizendo:"Vimos Fernando Roubando Galinha Sozinho!" sim era este o significado da sigla VFRGS que todos os trens da época tinham pintada nas suas laterais. Criança é engraçada! Ela achou o máximo e, deve ter mesmo ficado muito impressionada, pois jamais esqueceu o ensinamento.
Esses trens de agora pertencem à Viação Férrea do Rio Grande do Sul?