Quando decidi levantar, fui direto à janela, abrir tudo, cortina, vidro, persiana, para ver o brilho esplendoroso do dia que recebia. Olhava para o azul do céu quando outro som me surpreendeu. Era um bem-te-vi que falava que tinha me visto. Procurei-o e encontrei-o sozinho, cabeça erguida, em cima da murada do terraço de um prédio bem próximo. Sim, eu tenho certeza de que ele conversava comigo. Ficamos um tempo emitindo sons um para o outro.
Ao me virar para sair da janela, ouvi o miado de um gato. Onde está este bichinho agora? Estava no mesmo prédio, mas alguns andares abaixo, acho que tomando um banho de sol, pois fazia pose entre o vidro da janela e a rede que o protegia. Protegia ou prendia? Não vou entrar nesta discussão. Lindo, totalmente branco, olhava-me e miava.
Será que se não estivéssemos na pandemia, eu ouviria estes sons? Sentira carinho neles? Encantar-me-ia com eles e pararia a minha vida para dar-lhes atenção?