domingo, 26 de maio de 2013

Vidas

Sentada em minha cadeira preferida, na sala de meu apartamento, no silêncio, ouço os ruídos da rua. Não sei bem de onde vêm, mas conseguem chegar até meus ouvidos e me fazem imaginar o que está acontecendo. Chamam-me atenção os latidos de uma cão. Por que ele late? Não entendo muito de cães, mas a sensibilidade me dá sinais de que ele não está bem. Late muito, em altos brados, poderia ser dito. Deve estar sozinho. Sim, porque se assim não estivesse, suponho, já teriam ido ver qual o seu problema, qual a sua necessidade. Quantas vezes nós, os chamados racionais, sentimo-nos exatamente como esse cão. Quisera eu poder latir, latir muito, como os cães de grande porte que têm uma voz, se assim podemos dizer, que é ouvida a longa distância. Porém, nem sempre somos ouvidos. Para, para de latir cãozinho, que, no tempo em que vivemos, não há mais espaço para a atenção, não há mais espaço para o carinho, não há mais espaço para a paciência! Continuo aqui, em silêncio, e agora ouço o canto dos pássaros da rua. Soltos, livres, voando sem rumo, parando no galho que aparecer, na janela que lhe bem entender. Nem o canto desses que agora escuto está preso a qualquer regra pois impossível saber se é grande ou pequeno, preto ou branco, que ave é essa. Ser um ser qualquer, eis a solução. Não ter compromisso com o que esperam de ti, não se sentir amarrado aos laços, muitas vezes, já apodrecendo, dos que o cercam. Livre! Livre! Livre! O cão não para de latir, os pássaros...não se ouve mais o seu cantar.