domingo, 10 de janeiro de 2016

Um lugar, uma noite

        O jantar não havia sido o que ela esperava. Pedira uma pizza com tomates secos e rúcula. e veio rúcula com pizza e tomate seco. Comeu. Estava com muita fome. No final da refeição, havia um jardim em seu prato. Mas valeu o chopp e o tempo que ali ficara, observando os transeuntes tão diferentes daqueles que costumava ver em seu país. Duas informações que não quero dar: de onde ela é e onde estava, não vem ao caso. Quando não havia mais nada a colocar goela abaixo, pagou a despesa, e saiu pela calçada, caminhando lentamente.
        Na primeira esquina, olhou à direita para ver se podia atravessar e viu, no fim da rua, a maior e mais bela tela. Uma pintura que só a natureza poderia oferecer. Acontecia o pôr-do-sol, e ele ocupava exatamente o espaço visível no horizonte. Lindo, lindo demais! Óbvio que fez vários clics. Continuou sua pausada e atenciosa caminhada. Era seu primeiro dia na cidade. Parou extasiada diante de uma vitrina com fotos de tatuagens feitas nas mais exóticas e inusitadas partes de corpos. Em pensamento questionou, mas depois pensou: cada um faz o que quer com sua pele. 
        Atravessou a avenida por onde ciclistas passeavam, bondes passavam e carros circulavam lentamente, Fotografou mais uma bela paisagem no seu entender: uma bicicleta estacionada com a cesta repleta de flores. Aquele é um país que cultiva muitas flores. Há por todos os lugares, O detalhe do conjunto que encantara os olhos dela fora o fato de a bicicleta estar estacionada em frente a um bar ou restaurante em cima de cujas mesas, àquela hora, já tremulavam as chamas das pequenas velas. Quantos amores elas não iriam aquecer apesar da noite quente de verão que começava.
        Mais uns cinco passos, e uma porta enorme de duas lâminas em madeira talhada com desenhos florais. Parou, espiou. Um corredor largo, um piso em mármore branco e no fim um átrio antigo com plantas e flores. O aroma das flores misturado ao da limpeza inebriou-a. O piso do átrio parecia estar ali há muito mais tempo do que o mármore do corredor. Era muito antigo, Ouviu pisadas leves, murmúrios quase imperceptíveis, porém não viu ninguém. Ela estava só. Podia explorar mais o lugar. Uma das paredes desse espaço destoava. Era branca com muitas pixações, palavras escritas naquele idioma que ela não entendia. E bem no meio uma porta de madeira barata pintada de azul, não muito grande, mas com um trinco enorme dourado, daqueles que não se encontram mais.
        Ela entrou, estava bem escuro, muito escuro mesmo. ouviu o som de um piano acompanhado de um sax, vultos dançando, gemidos. Andou entre os vultos, pegou uma taça de champagne, Alguém a envolveu, apertou-a, sentiu o calor do corpo estranho e dali não mais saiu.