domingo, 8 de fevereiro de 2015

O Monstro!

        Acordou assustada. Não era nada. Foi ao banheiro e voltou a dormir. O monstro voltou junto e começou a atormentar. Ele era grande, muito alto e fedia. Cheiro de gente sem banho. Cambaleava, falava coisas sem nexo. O que ele quer comigo, pensou. O sono retornou mais profundo, e ela sorria. O ser devia ter ido embora.
        Levantou, o coração batia mais forte do que nunca. Estou tendo um ataque do coração! Não! Caminhou normalmente pela casa, o dia estava dando início aos trabalhos e mostrava que estaria iluminando aqueles que com ele se importavam. O dia! Quanta gente não tem a menor ideia de como nos traz alegria, como nos presenteia com tempo, deixa-nos ver tudo claramente, enobrece e nos faz feliz. Chegou à cozinha! Levou um susto.
        O monstro lá estava, forte e frágil, amedrontador e carente. Ela faz meia volta. Voltaria a dormir. Talvez em sono ele não existisse. Ou seria o contrário? Deu alguns passos, parou no meio do corredor. Nada ouviu. Ele agora parecia morto. Não faz ruído algum, não está me ameaçando! Virou-se e ficou por um instante observando aquele corpo enorme e doce. Ele não se movia, estava sentado no chão, encostado à parede, com a cabeça entre as pernas. Ela deu alguns passos, segurou-se no batente da porta, estava se sentindo fraca, tão fraca quanto ele, aquele ser, real ou imaginário, já não sabia mais nada. Apavorou-se, lágrimas desceram-lhe pelo rosto cansado e tomavam o rumo dos sulcos que a idade havia lhe cavado. Esfregou as mãos pela face, firmou as pernas, respirou fundo e dirigiu-se a ele.
        Agachou-se ao seu lado, levantou-lhe a cabeça, viu que respirava, porém nenhuma reação tivera. Inofensivo o animal. Pegou-o pelos braços, apoio-o nos ombros e carregou-o pela casa, arrastando-lhe os pés. Nem ela mesma acreditava no que estava fazendo. O monstro, naquela situação, apesar de dizerem "peso morto" para o que pesa muito, estava leve, leve como um bebê recém nascido, leve como uma folha frágil que se deixa levar pelo vento. Deitou-o! Agora ele está lá ainda. Uma criança de quem ninguém deve ter medo, uma criança para quem se deve dar amor, uma criança que esqueceu de crescer.