quinta-feira, 13 de maio de 2021

Monólogo de uma pomba!


        Venha cá, seu abusado! Já sei, não vai nem se virar para saber se é com você. Mas é, sim! Todos os dias é a mesma coisa. Não, todos os dias não é mais. Isto acontecia quando éramos mais jovens e você pesava menos. Também, além de não comer tanto como agora, fazia muito mais exercício. sabe de quais exercícios estou falando, não? 
        Faz que não ouve! Será que finge mesmo? Às vezes fico pensando que este cara pode já estar surdo. Não vamos exagerar, meio surdo. Acontece! Se outras coisas já não funcionam tão bem, pode ser que a audição esteja debilitada. Falar em debilitada, outro dia encontrei com aquele seu amigo, metido à machão também. Não adianta contar que ele está como você. Pelo menos é o que andam espalhando por aí. O pessoal já está vendo que vocês não são mais os mesmos.
        Agora hoje, este rodeio todo, fazendo voltinhas ao meu redor, cheirando meu cangote, emitindo aqueles sons tão conhecidos e de que eu gostava tanto, deu-me até um certa esperança de que voltaríamos a ter uma longa festança de amor aqui em cima deste prédio. A vizinha do outro edifício até ficou um tempo na janela, nos olhando. Devia estar pensando que não temos pudor ou era inveja do que iria acontecer.
        Iria acontecer! Realmente, eu estava entusiasmada, Topei lhe mordiscar como fazia em mim, mas a decepção foi grande quando, ao tentar subir no meu traseiro, você se desequilibrou, rolou e, não fosse a nossa habilidade de voar, estaria espatifado na calçada a esta hora. Ainda voou de volta e agora, depois de caminhar exibido pela murada, fica aí se fazendo, como se nada tivesse acontecido. Ainda ouço a risada da vizinha ao sair da janela.