domingo, 19 de agosto de 2018

Tempero da vida


    Um saleiro, uma caixa de fósforos, um vaso com ciclame em flor e uma janela fechada. Fechada para o tempero da vida, para o fogo da paixão, para a beleza do amor.
     Quantas vezes, no infinito da minha curiosidade, penetrei no estreito das venezianas e deitei-me na cama fria de lençóis em desalinho. Ali, sozinha, senti o salgado de teus lábios, o calor de teus afagos e vi-me florescendo tal qual a flor, numa orgia de ilusões, pensando que, talvez, alguém ainda me ame.
   Quantas vezes, depois desses devaneios, ponho-me a rir! Rir da minha cabeça fértil, do meu jeito de lidar com as palavras, do que elas provocarão em cada leitor, rir de felicidade por ver poesia num saleiro, numa caixa de fósforos e numa janela fechada.
     Os ciclames? Os ciclames da minha cozinha? Ah, esses são o tempero do meu alimento: o amor!