sábado, 21 de janeiro de 2012

Desabafo de uma anciã

Falava. Não ouviam!
Explicava. Faziam que não entendiam!
Dirigia-se diretamente a um deles. Não falou com ninguém!
Por que não disse?
Por que não explicou?
Falou, disse, explicou
Não ouviram.
Não conseguiram se dar conta de que alguém falava com eles!
Quando reclamava que já falara, já explicara, já pedira, já contara... estava louca, fazia drama sempre. Que saco!
Que saco, que drama diga ela!
Qual o prazer de conviver quando o "con" simplesmente não existe. O que existe é uma via de mão única, onde tudo provém de um único lugar.
No entanto, o uso de tudo que há no ambiente, resultado de muito trabalho e dedicação apesar da idade, é completo. Tipo aquela música do Chico Buarque "Foi chegando de mansinho... se apossou feito um posseiro..." A posse vem acontecendo de tal forma que, quando se der conta nada mais terá a cara dela. Onde estará a sua casa? Onde estarão as suas coisas? Onde estará o seu silêncio? Onde estarão as suas vontades?
E chegará o dia em que não mais se reconhecerá, pois estará à mercê dos desejos dos outros, à disposição dos outros.
Outros estes que nasceram dela!
Mas será que só porque colocou alguém no mundo deve ser obrigada a aguentar tudo em nome do tal amor materno? Saint Exuperrit não colocaria aquelas ideias em sua obra se tivesse vivido hoje e convivido com os filhos e netos de hoje!!!!
Ah! E quando todos se reúnem? A sensação que ela tem é de que devem pensar que é um ser extraterreno que não entende nada desses assuntos deles. E se não entendesse, custava lhe explicar? Afinal, ela não faz mais parte dessa família? Às vezes, pergunta-se: "O que estou fazendo aqui nesta festa, neste almoço? Nem sequer olham pra mim?"

Missão?

O caminho está escuro. Todo e qualquer movimento em busca de uma saída parece em vão. A vida tem sido assim, cheia de caminhos tortuosos, cheia de obstáculos a serem transpostos, cheia de feras a serem vencidas. As traves têm sido ultrapassadas, as curvas dos caminhos não impedem o curso, os "leões" abatidos, um a um, com ou sem esforço, porém dessa vez é diferente, tudo conigura dificuldade. Será o leão mais feroz, a pedra do caminho maior? Não, é cansaço de, apesar de toda a luta, não conseguir resolver uma das situações, a mais grave. Tem gente que perde para o corpo, outros perdem para a ignorância, a fome abate muitos; ela está perdendo para as drogas. Sim, essa droga tão procurada, tão usada, tão enaltecida pelas últimas gerações! Contra ela não há o que se fazer. Ela é a mais forte das feras, o caminho mais tortuoso, o obstáculo tão grandioso que nada de bom consegue brotar depois dela se instalar. Até quando nossa amiga terá de viver em meio a essa triteza, em meio a esse desânimo, em meio a esse egoísmo diabólico do poder das drogas?