segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Insana borboleta

        Estava dentro do casulo  e dali não queria mais sair. Seu tempo de virar borboleta já passara. Voara tanto, andara por tantos diferentes lugares, encontrara tantas diferentes pessoas que já se perdia em sua lembranças.
         Por que voltara ao casulo? Como fizera isso? Tivera ela outra oportunidade de ser borboleta? Conseguiria ser a mesma que a tantos conquistou, que a tudo alcançou? Essa era uma incógnita que a deixava insegura, com vontade nem sequer de começar a metamorfose. Havia sido tão feliz, havia recebido tanto, havia sorrido tanto que o fato de não ser tudo igual ao que fora antes a fazia  penetrar numa nebulosa de sins e nãos, numa hesitação de tirar a energia, numa culpa por estar querendo mais!
        No aperto das paredes de sua casa, seu corpo somava-se a seus desejos e juntos quase viravam um monstro a querer desprender-se das amarras, a tentar arrebentar os muros de concreto de sua consciência que não lhe permitia sair a conquistar, a vencer, a brilhar novamente. Que estratégias a auxiliarão a tomar esta decisão? Quem poderá ajudá-la a arrebentar com tudo que a prende? Não eu não devo! Por que acha que não pode voltar a ser aquela borboleta linda, colorida e vistosa? Que mal há nisso? Onde está a regra de que a lagarta sairá do casulo e voará somente uma vez? Impossível uma anomalia? Sim, eu quero ser uma anomalia. Ser algo jamais visto, nunca ouvido, nenhuma vez apreciado!
        Sentiu que sua vontade estava ficando mais forte. Seus membros moviam-se na tentativa, às vezes, insana. E nesta insanidade ela afundou-se, abriu as asas, arrebentou tudo que a impedia de viver outras experiências e lançou-se num voo ao infinito.