Era inverno, ventava bastante, mas o sol aquecia o rosto envelhecido de Maria Lúcia. O mar estava deslumbrante naquele dia, mostrando a quem quisesse seus babados de renda branca tecidas por mãos sensíveis e delicadas. O mar vestia-se de um verde azulado, não visto há muito tempo. A areia acolhia os pés de Maria Lúcia e a levava por um túnel do tempo em que visualizava os momentos mais lindos do sua vida.
Assim ela ficou por algum tempo sem sequer ouvir ou ver a realidade que a rodeava. Aos poucos, os homens foram-se achegando, sorrateiros e, sem serem notados, jogaram a rede. Maria Lúcia estava agora enredada naquelas cordas de nylon tão bem trançadas. Ajoelhou-se sobre a areia então úmida pela onda que até ali chegara, perdera o equilíbrio. Virada de frente para o mar, não tinha a mínima ideia de quem estava fazendo aquilo com ela, parecia uma brincadeira. Mas de quem? Fazia pouco que desembarcara naquela ilha, não fizera amizades ainda. Mais uma onda veio e, desta vez a molhou mais. Suas pernas e parte do abdômen já sentiam o gelado da água. A onda voltou para o mar e o calor do sol que antes era agradável não mais fazia o que ela esperava. Pensou: " Ele está tão fraco quanto eu!" Tentou se virar, na busca da identificação de seu pescador. Não conseguiu! O vento permanecia e aumentava sua velocidade e volume. Lúcia sentia-se dentro de um furacão. Chegou a pensar que o melhor seria que ele a levasse para onde quisesse, desde que a permitisse esquecer aquela sensação de impotência diante de tudo. Chegou a preferir um desfalecimento a fazer força para se livrar de mais esse ínfortúnio! As ondas continuavam, agora mais fortes. Maria Lúcia tinha até seus longos, quebradiços e desalinhados cabelos molhados. As lágrimas brotavam de seus grandes olhos, misturando-se com o salgado do mar que batia em seu rosto. Maria Lúcia sentia-se cada vez mais fraca; porém, a cada segundo, uma sensação de segurança ia-lhe tomando conta. E assim foi, até realmente perder os sentidos e cair deitada, enrolada na rede de seus sonhos, abraçada por seu amado.
Fora sempre assim! Ela jamais conseguira esquecer aquele amor, aquele homem que a fascinava, mas que nem se dava conta da existência dela. Maria Lúcia envelheceu à espera dele. A sua fixação virou doença e hoje, quando foge da casa em que vive, cuidada por enfermeiros contratados pela família, vem para a beira do mar, onde costumava vir para ver seu amor pescar. Ele não era um pescador, era um rapaz que vinha às vezes da cidade grande. Nem conhecia Maria Lúcia!
- Pronto, vamos levá-la! Agora dormirá tranquila, pensando estar com ele!
Nenhum comentário:
Postar um comentário