domingo, 3 de outubro de 2021

Aos poucos.

    Aos poucos vamos nos acostumando à escassez, 

    à falta,  ao estar só, ao viver conosco mesmo.

    Aos poucos vamos nos esquecendo das vozes que nos faziam bem,

     dos carinhos que nos acalentavam, das alegrias que eram tão assíduas.

    Aos poucos vamos nos acostumando ao silêncio, 

    ao vazio, ao cinza de uma existência com raras cores.

    Aos poucos vamos aprendendo  a não elaborar projetos, 

    a não ter consciência do pensamento,  a não lutar.

    Aos poucos vamos aceitando as limitações, 

    as mudanças, as perdas.

    Aos poucos vamos nos dando conta da finitude, que não nos larga, 

    e passamos a aceitá-la, revestida de paz.

    Aos poucos começamos a ver o quanto éramos bobos ao correr atrás do ter razão.

    Aos poucos o riso silencioso toma conta de nós 

    e pensamos no passado não com saudade, mas com orgulho e glória.

    Aos poucos vamos deixando que os mais jovens corram, gritem, briguem, lutem!


Um comentário:

  1. Tens razão... Aos poucos... bem aos poucos tanta coisa vai mudando... Adorei teu poema. Obrigada por tudo e por tanto!

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