A luz do quarto já estava apagada, já era mais de meia-noite. Somente o clarão advindo da televisão ligada fazia aqueles claros e escuro numa penumbra doce e embalante. O som da TV estava no mínimo, e os olhos dela pareciam querer fechar para o descanso da noite. Não se preocupava em desligar o aparelho, acertava o timer e adormecia tranquila, mesmo que estivesse sintonizada em algum programa interessante como o daquela noite. Os sons, os cheiros - borrifava lavanda na cama na hora de deitar - o calor das cobertas, tudo parecia ser parte dela mesma, tamanha a sua relação com aquele momento, naquela peça da casa. Seu quarto era um templo sagrado para ela.
De repente, seus olhos abriram-se como impulsionados por algo diferente. Sentou-se. Ouvira, sim, um ruído estranho, parecia um arranhar de patinhas. Lembrou-se de quando um morcego entrara no seu apartamento, e isso a apavorou! Colocou a TV no "mude". Nada ouviu. Acendeu a luz de cabeceira. Nada! Voltou atrás em suas ações, deitou-se, virou para o lado e puxou a coberta sobre o rosto. Fechou os olhos.
Passados alguns segundos, novamente o ruído. Não, aquilo não era impressão, tinha algum ser além dela naquele quarto. Pensou em pegar o travesseiro e as cobertas e sair dali. Fechar a porta e ir dormir na sala. No dia seguinte, com a luz do dia, tentaria descobrir o que era. Mas na mesma hora, como sempre fazia em momentos de perigo, tomou a decisão de desvendar o mistério. Nunca fora de recuar diante do desconhecido, muito ao contrário, ia atrás.
Acendeu a lâmpada do abajur, tirou o "chapéu" do mesmo, sentou, colocou os chinelos e passou a iluminar atrás da cama, da mesinha de cabeceira, do armário que ficava à direita. Depois procuraria do outro lado. Enquanto isso, a televisão estava sem som, nada poderia atrapalhar aquele momento de investigação. O fio parecia que não alcançaria bem atrás do armário, mas uma esticadinha e ...opa! Lá estava ela, ou ele! Uma senhora barata, bem tratada, num tamanho adulto, asas bem lustrosas, porém lenta como uma velha, tonta como um bêbado em final de festa. Focou a luz nela, e a danada não reagiu como deveria, somente conseguiu andar, dolorosamente, uns dez centímetros.
- Háhá! agora tu vais ver de quem é este aposento! Vou terminar com a tua festa, sua nojenta.
Tirou um dos chinelos e, com pequenos puxõezinhos, trouxe a maldita mais para perto. Acabou fazendo, sem querer, com que ela virasse com as patas para cima. A letargia do bicho era tamanha que nem movimentava mais suas pernas para voltar ao normal.
Maria foi até o quartinho dos fundos, pegou o spray mata-insetos e veio numa fúria como se portasse uma arma de guerra. Apertou o botãozinho do spray e, sem parar, empapou a coitada da barata. Foi ao banheiro, pegou um pedaço de papel higiênico, dobrou-o várias vezes - não suportava a ideia de encostar seus dedos naquele bicho. Entrou no quarto e pegou a coitada, amassou-a fortemente dentro do pacotinho que fez dela com o papel e colocou-a no lixinho do banheiro.
- Pronto! O inimigo está eliminado! Posso voltar pra minha caminha!
Deitou-se e adormeceu em seguida, estava exausta. Nem lembrou que conseguira essa façanha só porque a barata, provavelmente, já tinha passado por dentro daquelas caixinhas com "iscas" que deixam esse bichinhos tontos, envenenados por algum produto apropriado. Maria tinha uma destas em cada peça e as trocava a cada três meses. Com isso não há baratinha que resista! Mas deixa Maria pensar que nos impressionamos com sua astúcia!
- Boa noite, Maria!
Sou tua fã, sabes. Não somente nos escritos. Admiro tuas artes. Amei a façanha da Maria. Beijos.
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