Ai, meu Deus do céu! O que fui fazer! Que droga! Sempre me meto nestas enrascadas! Por que não sosseguei no meu canto. Vou parar de borboletear um pouco e tentar descobrir onde estou. É, aqui tá bom, parece que ninguém vai estranhar a minha presença, também... não tem ninguém por aqui mesmo. Hum, deixa eu olhar bem para todos os lados. Putz! Acho que tô perdida mesmo! E aquele sem-vergonha do encosto que me arrumaram, nem pra sair atrás de mim e me acompanhar serve. Só fica lá me pedindo coisas, comidinhas, bebidinhas e outras cocitas más, que só me irritam.
Vou chamar por socorro, quem sabe alguém se apieda de mim e me auxilia a encontrar o caminho de volta.
- Socoooooooooooooooooorrrrro! Socooooooorrroooo! Que sssaaaaaaacccooooo! Não estããããããããoooooo me ouviiiiiiiiiiiiiiinduuuuu!
É, tá difícil! Hi! Só o que me faltava agora. Nunca pensei que poderia encontrar essas duas por essas bandas.Nâo sei por que não param de me olhar! Não são donas desse lugar aqui! Humm!! Lá vem elas andando meio de lado para disfarçar. Com certeza, vêm me tomar satisfação por algum motivo. Mas como não sou de andar por aí, sem rumo, desprotegida,afinal, sou uma moça fina, de trato, moro muito bem, nem vou responder se essas mucreias vierem falar comigo. Não devo me misturar. Vou disfarçar também e bater asas para outro lugar. Quem sabe encontro alguém que me ajude.
Ui, não devia ter corrido tanto, não estou mais acostumada a dar tão longos voos. Não estou gostando desse lado aqui. O sol está me queimando, o chão é irregular, ai que falta de conforto! Olha lá, as duas metidas saíram de lá também. Vou voltar! Desta vez vou mais devagar, não estou a fim de ficar suando. Vou-me encostar aqui nesse muro por alguns minutos e tentar me lembrar de como posso voltar para casa! Ai, minha casinha, que saudade!
Será que estou tendo uma miragem? Mas aquele lá não é o encosto? Não, devem ser meus olhos! Aquele idiota não teria esta capacidade de dar-se conta de que eu não estava mais em casa, muito menos tomaria a iniciativa de me procurar. Seria demais para seus curtos e queimados neurônios. Ups! esse buraco quase me ungoliu. Mas não é o encosto mesmo?! Deve estar perdido também. Agora seremos dois e terei muito mais responsabilidade.
- Laura! gritou o encosto.
- Já disse que sou louro, papagaio ridículo!
- Há! Há! Há! Quer dizer que viu a porta da gaiola aberta e achou que poderia ganhar o mundo?
- Cala a boca, encosto! Foste tu quem não aguentou e saiu atrás de mim!
- Deixa de ser metida e convencida! Estou de olho na periquita da vizinha!
- Quê? E tá achando que ela vai te dar bola?
- E por que não? Sou um papagaio elegante e charmoso!
- Olha lá! aquelas duas foram buscar reforço. Estão vindo para cá, acompanhadas! Ai meu Deus, temos de fugir! Vão nos expulsar daqui! E eu não sei voltar para casa! Papagaiozinho! me ajuda!
- Ah é?! Eu vou ter de te salvar? Quem diria?
- Por favor! Desculpa as minhas grosserias, mas eu estava acostumnada a viver sozinha. Aí te trouxeram e colocaram junto comigo, como se eu tivesse de gostar de ti só porque és mais jovem, bonito, penudo, verdoso como nenhum outro papagaio que eu conheço! Ai agora disse tudo! Que vergonha! Mas eu estou apaixonada por ti e não queria me dar conta disso. Ai! Ai! Ai!
- Bonito, né? Escondendo o jogo? Pois bem, eu sou galante, sábio e conquistador, mas odeio papagaiazinha que me escanteia e desdenha. Quer voltar pra casa?
- Ham, ham! Snif, snif!
- Vamos lá! Bate asas e tenta me acompanhar. Não vou nem olhar para trás para saber se estás conseguindo me seguir! Te vira, metidinha!
- Ai, vamos láááááááááááá!
Uma provável conversa entre dois papagaios que surgiram hoje, à tarde, no beiral do edifício vizinho ao meu, provavelmente perdidos, pois a gritaria que faziam era ensurdecedora. As perseguidoras eram as pombas que normalmente estão naquele lugar e, com certeza, se sentem donas do pedaço.
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