sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Carlota

Todos os dias Carlota saía, pegava o ônibus, ia até o centro da cidade, andava até o prédio onde ficava a empresa em cujo setor de marketing ela trabalhava. Almoçava no pequeno restaurante da esquina, junto com alguns colegas, nem sempre os mesmos, mas só! No final do expediente, tomava o ônibus de volta, chegava ao apartamento onde morava com uma velha tia por parte de pai, jantavam, assistiam a algum programa de televisão e iam dormir. Carlota, só! Era sempre o mesmo, igualzinho, só o que mudava era o tempo, umas vezes chovia, outras fazia sol, havia o inverno e os dias quentes do verão. O tempo ia passando, Carlota envelhecendo. Cuidava da tia, do trabalho, da casa, das contas. Ninguém cuidava dela. Um dia Carlota foi avisada de que não precisaria mais trabalhar. Seu tempo havia expirado, e ela agora podia gozar de dias livres, da aposentadoria. Carlota voltou para casa. Não sabia nem pensar diferente, tinha sido sempre tudo tão igual. Ficou sem sair por dois meses, nem pela janela sabia olhar, apreciar. Não se dava conta de que havia vida lá fora. Mas continuavam vivas ela e sua tia. Mais dois meses se passaram, sua tia morreu. Carlota continuava só. Passou a viver a vida das personagens das novelas a que assistia. Vestia-se igual a uma, caminhava como outra, fazia escolhas semelhantes a de mais outra. Até suas refeições eram programadas conforme o que os personagens comiam em uma e outra cena. Uma dia, numa determinada cena, a protagonista deu um basta à maneira como encarava sua existência, e Carlota fez o mesmo. Baixou de cima do roupeiro uma pequena mala, colocou algumas roupas dentro, pegou a bolsa de mão, levantou o colchão, recolheu todo o dinheiro que ali guardava há muitos anos, encheu a bolsa com as notas amassadas e saiu. Saiu pelas ruas, pelas avenidas,pelas estradas, pela vida! Carlota, ninguém precisa aprender a viver. A vida se vive!Seja feliz!

Nenhum comentário:

Postar um comentário