quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A porta da minha vida

Aquela porta sempre me deixava intrigada. Grande, pesada, bonita. Nunca a vira aberta. Limpa, sim, sempre estava limpa, bem cuidada, apesar de velha. Madeira boa! Também nunca vira alguém por perto, parecendo ter alguma relação com ela.
Essa minha curiosidade vinha desde os tempos de infância quando por ali passava ao ir para a escola. Jamais falei com minhas colegas sobre ela. O segredo parecia estar nela e em mim.
Um dia, eu estava perto dos vinte, fazia arquitetura, decidi chegar mais perto. Meus olhos pareciam que queriam comer cada detalhe. Tudo era impressionantemente bem feito. Mas pasmem! Não havia fechadura, havia aquelas argolas de ferro torneado, usadas para se bater na madeira e, assim, chamar atenção de quem lá dentro estivesse. Foi isso que fiz: agarrei-me às duas argolas e, com muita força e intensidade, bati. Bati insistentemente, não conseguia parar. Aquele som parecia estar me encantando demais. Senti-me brincando. Direita, esquerda, direita, esquerda.Tinha a sensação de que, no momento em que alguém me atendesse, um mundo diferente iria se apresentar. Não sei por quanto tempo repeti essa ação. Só sei que cansei. Cansei e fui me encostando nela. Meu corpo foi escorregando, exausta. Exausta, mas divinamente feliz. Quando lá no chão meu peito, encostou, o dia estava indo embora. Escurecia e, pela fresta que a separava da soleira de mármore onde eu agora descansava, uma luz foi me sugando. Tive a impressão de que eu havia virado um pedaço de papel que é levado pelo vento sem ter vontade própria.
Hoje aqui estou, virei uma luz, pequenina, mas cheia de mistérios e sabedorias. Não me lembro de mais nada de minha vida, a não ser o que aqui relatei. Ninguém aqui chegou. Quanto tempo? Voltarei? Continuo sem saber o que se passa do outro lado, agora o lado, talvez da vida, mas não tenho mais aquela curiosidade. Tudo parece estar no seu lugar!

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