quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Numa manhã de domingo

O domingo estava ensolarado. O caminho que havia pegado era desconhecido. Pelo menos eu não havia passado por lá ainda, no entanto ficava próximo à minha casa. Quis aventurar-me. Tomei uma estradinha de chão batido, esburacada, provavelmente, por causa das chuvas que tinham caído durante a semana que passara. A sensação de liberdade tomava conta de mim. Estava feliz e ria sozinha. Fiz uma curva para direita e o cenário me encantou. Ali, naquele trecho, as árvores formavam uma espécie de túnel. De cada lado da pequena estrada, nascia, ao som de martelos, batidas de madeiras, serra, vozerio masculino, uma cidade que, em poucos dias, traria do passado e das raízes do meu recanto as mais distantes tradições. Eu amo tudo isso. O que me incomodava eram os buracos que faziam com que eu pulasse muito em cima do banco da minha "bike", como dizem agora. Pedalava, apreciando tudo o que podia, e a alegria tomava conta de mim. Lá ao fundo, onde parecia que não haveria saída, eu tinha a esperança de encontrar algo, não sabia o quê. Talvez o rio, talvez uma outra estrada, não vinha ao caso. Minha curiosidade sempre fora aguçada e sempre me levara a novos caminhos,  não era a idade que me faria mudar. E assim fui até que avistei algo se movimentando que vinha na minha direção. A princípio não sabia se era um animal ou uma pessoa, mas, à medida que nos aproximávamos, aquele ser ia ficando mais claro. Ele caminhava cambaleando de um lado para o outro, era baixinho e carregava sacolas grandes, cheias de caixas de papelão nas duas mãos. Eu continuei na mesma trilha, e ele também. Estávamos cada vez mais perto. Então eu vi que ele me olhava fixamente, como se eu fosse um alvo a ser atingido. Eu não me afastava, aliás, não tinha para onde ir , para onde fugir. mas eu não estava com medo. Tinha a sensação de que nos conhecíamos, pobre idiota eu, sempre com a mania de confiar em todos e em tudo. O cheiro que exala de suas roupas já tomavam conta do espaço e, quando menos esperei, fui atingida pelas caixas que ele jogava furiosamente sobre mim. Não pensei muito, não reagi, apenas fugi. Consegui me desvencilhar e pedalar para longe da criatura. Quando senti que estava distante, parei e olhei para trás. O homem continuava esbravejando e me olhando com muita raiva. Senti medo, mas não havia mais perigo. No combate desta manhã, saí vencendo. Ele não parecia ter raciocínio suficiente para me enfrentar. Andei mais um pouco, olhei novamente, e ele continuava lá, furioso, olhando-me. Acabei dando  de cara com o rio e, à beira dele, tirei, com o calor do Sol, os fantasmas que haviam me perturbado. E o meu agressor? Conseguiria ele livrar-se dos fantasmas dele?

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