Às vezes a gente pensa que está em meio ao silêncio, talvez porque não estarmos emitindo uma palavra, um cantar. Comecei a prestar atenção, como se abrisse mais minhas orelhas para que captassem tudo que fosse som. E assim passei a ouvir o arrastar do tênis quando chegava ao chão, carregado por uma de minhas pernas após ter feito um ângulo de 90º para trás. Dez repetições, dez vezes o mesmo som. Então veio o teste com a outra perna, e o som se repetiu. Dei um sorriso. Que bobagem estou fazendo. Mudei o exercício e esqueci o som. Esqueci?
Comecei a ouvir o som de vozes, vozes que trocavam palavras, palavras que transmitiam ideias, mas que chegavam a mim num turbilhão sem que conseguisse entendê-las. Pareciam vir de cima, difícil ter certeza do local do som. Em meio à confusão de sílabas, aparentemente, desconexas, vieram as risadas. Rir! Claro, rir emite tantos diferentes sons e nos instiga a rir também, pelo menos a sorrir. E como é bom!
Os risos provocaram os latidos, e estes, sim, penetram em nossos ouvidos e causam-nos alguma reação. Vontade de dizer para parar, vontade de pegar o bichinho no colo, vontade de ter um cãozinho. Eu? Claro que não, já estou delirando. Só quando eu ficar bem velhinha. Será que já não estou?
Apito estridente incessante! Meu celular avisando que já havia ficado vinte minutos pegando sol. Desliguei o alarme, parei, tentei ouvir mais alguma coisa que me chamasse atenção. Ouvi! Ouvi meu estômago roncando. Era hora de me alimentar!
(Escrito em 09 de agosto de 2020)
Nenhum comentário:
Postar um comentário