Urubu
no Telhado
Um urubu
pousou na antena do prédio ao lado, quando eu tomava meu café da manhã.
Normalmente este momento acontece na mesa da sala, de onde tenho uma boa visão,
não só do céu mas também do branco sujo das paredes do tal prédio.
Não é meu
hábito olhar para lá, pois além do que já falei, sendo ele da altura do andar
em que moro, vejo um conjunto de antenas de todos os tipos e tamanhos no
terraço. Sempre me pergunto por que não tiram de lá estes objetos em desuso.
Mas hoje, talvez pelo avantajado tamanho da criatura que na mais alta colocou
seus pés, meu olhar parece ter sido chamado. E a partir do momento em que o
mirei não mais tive sossego. Examinei meu prato de frutas para ver se por
ventura não havia me enganado e colocado um pedaço de carne, o que faria com
que a grande ave adentrasse meu apartamento e abocanhasse meu bife, sei lá,
para meu desespero. Desespero não sei se de medo ou de avareza mesmo. A carne
de gado está muito cara. Ri de mim e relaxei.
Fui à cozinha pegar a segunda
parte do meu desjejum, os ovos! E agora? Urubus gostam de ovos? Nas histórias
em quadrinhos da minha infância, sim! Devoravam os ovos dos ninhos dos pássaros
“mocinhos”. Claro, os urubus eram os vilões, coitados. Mas a fome sempre me faz
esquecer as desgraças. Trouxe os ovos e o café preto e fiquei comendo, bebendo
e cuidando o invasor. Meus pensamentos voando e me lembrei da história de uma
aluna cujos pais deixaram para limpar, no dia seguinte, as sujeiras e sobras do
churrasco da noite anterior. Levaram aquele susto quando, na manhã seguinte
subiram e deram com um urubu comendo um pedaço de picanha. Ainda me pergunto se
ele estava usando talheres. Ri de mim novamente e quando olhei para as antenas,
a ave havia sumido.
Vou confessar aqui que corri
até meu quarto para ver se ele não estava deitado na minha cama. Que vergonha!
Ainda bem que moro sozinha. Na minha cama não estava, mas pelos latidos
incessantes e desesperados do cão do vizinho de trás, concluí que andava ainda
pelos arredores. Pelo menos, mais para baixo. Entretanto, alguns minutos depois
fui surpreendida pela gritaria também incessante e desesperada dos papagaios do
bairro. O urubu estava causando alvoroço. Fechei todas as janelas.
Como minha cabeça é realmente
muito pensante, lembrei o ditado: “O mal do urubu é achar que o boi está
morto.” Nada a ver! Mas, de acordo com crendices populares, “urubu no telhado é
sinal de morte”. Ainda bem que ele pousou no do prédio ao lado.
Faz pensar. 👏👏👏👏
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