domingo, 8 de setembro de 2024

 

Urubu no Telhado

            Um urubu pousou na antena do prédio ao lado, quando eu tomava meu café da manhã. Normalmente este momento acontece na mesa da sala, de onde tenho uma boa visão, não só do céu mas também do branco sujo das paredes do tal prédio.

            Não é meu hábito olhar para lá, pois além do que já falei, sendo ele da altura do andar em que moro, vejo um conjunto de antenas de todos os tipos e tamanhos no terraço. Sempre me pergunto por que não tiram de lá estes objetos em desuso. Mas hoje, talvez pelo avantajado tamanho da criatura que na mais alta colocou seus pés, meu olhar parece ter sido chamado. E a partir do momento em que o mirei não mais tive sossego. Examinei meu prato de frutas para ver se por ventura não havia me enganado e colocado um pedaço de carne, o que faria com que a grande ave adentrasse meu apartamento e abocanhasse meu bife, sei lá, para meu desespero. Desespero não sei se de medo ou de avareza mesmo. A carne de gado está muito cara. Ri de mim e relaxei.

Fui à cozinha pegar a segunda parte do meu desjejum, os ovos! E agora? Urubus gostam de ovos? Nas histórias em quadrinhos da minha infância, sim! Devoravam os ovos dos ninhos dos pássaros “mocinhos”. Claro, os urubus eram os vilões, coitados. Mas a fome sempre me faz esquecer as desgraças. Trouxe os ovos e o café preto e fiquei comendo, bebendo e cuidando o invasor. Meus pensamentos voando e me lembrei da história de uma aluna cujos pais deixaram para limpar, no dia seguinte, as sujeiras e sobras do churrasco da noite anterior. Levaram aquele susto quando, na manhã seguinte subiram e deram com um urubu comendo um pedaço de picanha. Ainda me pergunto se ele estava usando talheres. Ri de mim novamente e quando olhei para as antenas, a ave havia sumido.

Vou confessar aqui que corri até meu quarto para ver se ele não estava deitado na minha cama. Que vergonha! Ainda bem que moro sozinha. Na minha cama não estava, mas pelos latidos incessantes e desesperados do cão do vizinho de trás, concluí que andava ainda pelos arredores. Pelo menos, mais para baixo. Entretanto, alguns minutos depois fui surpreendida pela gritaria também incessante e desesperada dos papagaios do bairro. O urubu estava causando alvoroço. Fechei todas as janelas.

Como minha cabeça é realmente muito pensante, lembrei o ditado: “O mal do urubu é achar que o boi está morto.” Nada a ver! Mas, de acordo com crendices populares, “urubu no telhado é sinal de morte”. Ainda bem que ele pousou no do prédio ao lado.

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