Pegou a pinça e foi olhar-se no espelho de aumento que ficava em cima da cômoda no seu quarto. Antes de começar a tirar os pelos que a incomodavam embaixo das sobrancelhas, colocou-a no bolso do chambre e deu uma examinada minuciosa em seu rosto, puxando, nada delicadamente e com a ponta dos dedos, a pele, que não era mais a de quando tinha vinte anos. Puxava dali, puxava daqui, abaixava a cabeça, virava-a para a direita, depois, para a esquerda, levantava-a para analisar o pescoço. Foi nesse momento, que enxergou algo que não esperava: um cabelo comprido sob o queixo, enroladinho como um cacho. O que estaria ele fazendo ali? Como surgira? O que sinalava a sua presença? Devia ter crescido ligeiro, pois não havia se dado conta dele ainda. Está certo que não ficava, diariamente, observando sua face, seria dolorido demais. Aquele intruso, realmente, havia deixado nossa amiga desconcertada.
O que fazer? Arrancar a surpresa de maneira surpreendente de forma que nunca mais ela ousasse aparecer ali? Deixá-la em paz a fim de não crescer mais? Afinal, sempre ouvira dizer que quanto mais se depila mais se tem. Pegou o espelho que era portátil e dirigiu-se à janela, podia estar tendo uma visão. Quem sabe o tal cabelinho nem existia! Doce ilusão, lá estava ele, mais firme, mais visível e mais enroladinho do que antes.
Enfiou a mão no bolso, pegou a pinça e, com muita fúria, iniciou uma batalha para eliminá-lo. Levou algum tempo, seu rosto suava de nervosa, o que atrapalhava a investida sobre o inimigo. No entanto, sua raiva e medo eram tantos que venceu a parada. Seu queixo, agora, parecia a bundinha de nenê, lisinho, lisinho. E ali, perto da janela, com aquela luz imperdoável do sol, segurando com a mão esquerda o que não mentia, virou o rosto para a direita e, com a mão que sobrava iniciou novamente a analisar sua pele. Pra quê? Viu o que não queria ver: outro intruso! Talvez parente daquele, pois tinha as mesmas características. Olhou a paisagem pela janela e, num impulso, atirou o objeto revelador com toda a força. A sorte dela é que seu apartamento era de fundos e tudo que caia, caía sobre o telhado da garagem! Nunca mais quis examinar seu rosto!
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