sábado, 21 de julho de 2012
Vida lá fora
Eles riam e gritavam! Divertiam-se, achava ela. Ouvia suas gargalhadas, suas vozes altas confundindo-se. Eram vozes femininas, masculinas. Às vezes, quase estéricas as risadas. Em meio ao sons humanos emitidos, latidos de um cachorro nervoso. Essa mistura a deixava ansiosa. Não aguentava mais ficar ali, sozinha, ouvindo a vida lá fora, sem saber exatamente o que acontecia. Agora cantavam parabéns a você. De quem seria o aniversário? Essa agonia! Palmas, gritos, música. Sim havia um grupo de sambistas, era samba o ritmo. Ela ali, sentada em frente à televisão, mudando de canal, irritando-se a cada programa que decidia ver. E o cachorro agora latia mais, sem parar, como se fosse um relógio: au, au, au, au...
Ela se levantou, abriu a porta, tomou o elevador, saiu para rua e começou a caminhar no meio daquele povo que não conhecia. Sorria e cumprimentava todos como se fossem amigos há muito tempo. Parou diante do bar onde os músicos tocavam e com eles cantou. Seguiu, dobrou a primeira esquina, caminhou ao som do "relógio" e, sem que alguém notasse, abriu o portão de onde o cão saiu. Saiu, avançando em todos, mordendo alguns, arrancando a roupa de vários, até que a alegria se transformou em horror, em tragédia. Em poucos minutos as risadas viraram gritos de desespero. Ela voltou para casa, deitou em sua cama e dormiu, afinal, finalmente, fez-se silêncio lá fora.
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