sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Gotas, somente elas!

Elas pareciam estar mais nervosas do que normalmente estão quando surgem em nossas vidraças. Elas vinham em grandes grupos, umas mais cheias, outras menores. O vento não as deixava seguir seu caminho em paz. Normalmente quando se deparam com algum obstáculo, lentamente se conformam e iniciam sua descida para o final de suas trajetórias, suas vidas. Mas aquele vento forte de hoje fazia com que dançassem de um lado para outro, sem ritmo, mas com pressa. Uma pressa forçada e dolorida. Sim, com certeza, não queriam estar se debatendo como seres humanos em busca de abrigo, seres egoístas, seres que, na ânsia de salvar sua própria vida, atropelam, batem, derrubam, matam. Havia no som que delas se ouvia um certo tom de tristeza, um certo tom de inconformidade. Elas sabiam o quanto são importantes, o quanto são desejadas, mas não daquele jeito, não com aquela violência. Ah, se a sobrevivência delas dependesse somente delas como seria diferente. Não andariam nessa correria louca. Cairiam calmamente, uma por uma, sem machucar ninguém, sem destruir qualquer coisa que fosse, mesmo as mais frágeis. Ao baterem na terra, se espalhariam, penetrariam com delicadeza as profundezas do planeta e sua missão estaria cumprida no esplendor de um flor, na doçura de um fruto, no colorido do arco-íris quando seu amigo sol viesse secá-las. Ah, as gotas da chuva! Como são belas sem a intromissão do vento, sem o destempero do homem!

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