quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Um moço loiro!
Lembro como se fosse hoje. Tudo parecia tão sem graça na minha vida de adolescente, prometida para um cidadão rico da vizinhança. Era vinte anos mais velho do que eu, mas era bonito e cheiroso. Todos aguardavam a minha maior idade. A festa seria muito grande. O noivo pagaria tudo. Estava eu à janela, à noitinha. De repente, um carro, gritaria e alguém me chamando:
- Vem, Joana! Vamos nos divertir um pouco!
Era Marina, minha colega de aula na Escola Normal. Saltou dentro de mim um desejo quase incontrolável de sair correndo e entrar naquele carro. Porém o respeito pelas decisões de meu pai, por alguns instantes, falaram mais alto. Ir ou não ir, esta era a questão. Não pensei muito, abri a porta de espelho do pequeno armário do meu quarto, tirei um casaquinho , troquei os chinelos por um calçado e fui, fui sem saber para onde, fui ao encontro do divertimento. Divertimento... eu nunca soubera o que era divertir-se. Estava na hora.
Sentei-me no banco de trás, mas o motorista pediu que eu fosse no da frente. Quando estava me acomodando, fui puxada e, como num golpe certeiro, encaixei-me embaixo do braço direito do loiro lindo de olhos verdes. Ele usava uma camisa listrada de verde e branco e tinha dentes lindos. Fiquei tonta com tudo aquilo, mas não demonstrei nenhuma estranheza. Não queria que soubessem da minha vidinha sem graça e sem experiência.
O carro voava e com ele voavam meus pensamentos. Finalmente iria a um lugar que tinha a ver comigo, tinha certeza. E, ao chegar lá, foi como se mergulhasse num mar de emoções: dancei, cantei, fui abraçada, beijada, tornei-me mulher! Sim aquele era o meu lugar, aqueles eram os meus parceiros, aquele era o meu amor.
Naquele delírio de prazer, esqueci-me da realidade e, quando ao amanhecer, cheguei ao meu bairro, dei-me conta de que talvez tivesse vivido um sonho. Sonho do qual não queria acordar. Mas na mesma rapidez que me pegaram, largaram-me. Largaram-me e nunca mais voltaram. À frente de minha casa estavam meus pais e meu prometido dono. A partir daquele dia nada mais aconteceu na minha vida. Não casei com o velho, que se sentiu traído, nem o loiro lindo me procurou mais.
Hoje faz exatamente quarenta anos que tudo aconteceu; por isso estou à janela, quem sabe o tempo resolve dar uma volta e um moço loiro lindo de olhos verdes vem me chamar e me encaixar sob seu ombro!
Ui, mas que não seja agora, preciso fazer xixi!
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