terça-feira, 10 de setembro de 2013

Arco-íris

     E quando olhamos para o céu depois da chuva, ele estava lá, imperativo, dividindo o mundo em dois. De onde estávamos, a sensação que tínhamos era que, daquele momento em diante, tudo seria diferente. Poderíamos escolher se queríamos viver à direita ou à esquerda. E começamos a brincar de o que faria parte do mundo de um lado e o que pertenceria ao outro. E foi assim que nos demos conta de que somos todos muito diferentes um dos outros.
     Alguns queriam que de um lado só houvesse coisas doces: doces doces, cores doces, palavras doces, sentimentos doces, melodias doces. Houve aqueles que acharam que o doce acabaria por nos enjoar e do outro lado veio o amargo e com ele o amargo sabor das desilusões, a amarga dor das palavras ofensivas, o amargo pesar das perdas, o amargo sofrer da violência. Então os do lado doce chegaram à conclusão de que do lado deles estariam os rios, as relvas, as montanhas, os lagos. Junto ao amargo, decidiram que deveriam estar os oceanos, os desertos e a neve. E assim, cada grupo foi preenchendo o seu lado com aquilo de que mais gostava. Ao lado das doçuras, dos rios, dos campos e das montanhas colocaram os peixes, o gado, os animais domésticos, os pássaros. E  junto à amargura, aos oceanos, aos desertos e à neve, vieram as baleias, os tubarões, os animais peçonhentos, as aves grandes.
     Tudo estava assim se dividindo quando um menininho olhou para o céu e perguntou onde estava a tal da divisão. Todos ergueram as cabeças à procura do arco-íris e se deram conta de que, enquanto deliravam na discussão da escolha das coisas do mundo, haviam perdido o espetáculo uqe a natureza mandara para embelezar e dar alegria ao homem. Este, como sempre, em vez de curtir o momento, perdeu-se em pensamentos sem fundamentos, supérfluos e fúteis.
     Não há um mundo com isso e outro com aquilo. Tudo é necessário, tudo faz parte, tudo está na seu devido lugar, na hora certa, e tem o seu tempo de duração, não é senhor Arco-Íris?

(Foto tirada em Xangri-lá, RS, Brasil, em janeiro de 2009)

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