Era uma sala de espera num portão de embarque de um aeroporto. Havia muita gente. O voo estava atrasado. Alguns dormiam mal sentados, agarrados a suas sacolas de mão; outros aproveitavam para fazer um lanche na pequena cafeteria; crianças corriam enquanto seus pais, nervosos, iam atrás; os mais afobados já estavam posicionados na fila, como se houvesse a probabilidade de perder o avião quando ele passasse, lembravam aqueles que, ao fim do dia, aguardam a condução para voltar a seus lares.
O clima era esse e parecia que não mudaria tão cedo, quando aquele senhor de cabelos brancos, rosto redondo, bermuda verde combinando com a camisa clara, surgiu como uma inesperada criatura em meio aquela loucura. Ele estava e parecia ser calmo, muito calmo. Carregava na mão direita, estranhamente, uma pequena mochila, na verdade, assemelhava-se às frasqueiras que as mocinhas usavam nos anos cinquenta. Procurou uma mesa vaga, puxou uma cadeira, sentou e colocou-a sobre o tampo de fórmica vermelha.
Se alguém pensou que ele ia chamar um garção, ou buscar algo para tomar, enganou-se. Olhou demoradamente a bolsa de mão, pode-se assim chamar, e iniciou sua tarefa. Havia muitos fechos. O senhor abria um, mexia os dedos dentro do espaço, fechava este e abria outro, do outro lado. Ele procurava algo, com certeza. Virava a bolsa, abria outro fecho, vasculhava cegamente, fechava. Virava para outro lado, abria outro fecho, tateava dentro e fechava. Assim, ele ficou, nessa intensa procura, por alguns minutos. Por último, decidiu abrir o fecho principal, o que dá acesso à parte maior da bolsa. Colocou a mão toda dentro, movimentou-a e a luz se fez em seu semblante.
A voz feminina vinda do além anunciou o embarque, a fila começou a andar e o senhor não mais foi visto. O que será que ele procurava?
As chaves, o IPhone, o remédio da pressão ou o presente para sua amada?
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