Finalmente cheguei à pequena vila em meio às montanhas. Cheguei cansada, mas ainda precisava encontrar o casarão de porta e janela na calçada. Andei mais um pouco e avistei-o. A emoção tomou conta de mim, meu coração começou a bater mais forte. Estaria eu certa? Seria ali mesmo?
Parei a uns cinco passos, bem à frente dele. meus olhos correram cada centímetro da velha casa, onde um dia serviam chá. Sim, era ali. Porém outra dúvida tomou conta de mim. Estariam elas lá dentro? Elas me reconheceriam? Fazia tanto tempo! Passo a passo aproximei-me da vidraça da porta, encostei a testa e vislumbrei a sala. Sim, elas moravam ali. Os móveis, as cortinas de voal branco, as flores dentro e fora da casa. as poltronas antigas, os guardanapos de croché, tudo revelava a presença daquelas duas. Recuei um pouco, hesitei, fechei a mão direita, ergui-a e, meio trêmula, dei três leves batidas no límpido vidro. Agora era esperar.
A primeira a aparecer foi a mais velha. Não havia mudado nada. Eu lembrava cada detalhe de seu rosto, de suas mãos, de seus cabelos. Claro que os anos haviam feito seus registros, mas a essência era a mesma. Quanta alegria foi-me enchendo o peito. Senti como se fosse explodir tal um balão de aniversário. Sim, um balão cheio de lembranças e saudades. Ao abrir a porta, inicialmente, ficou parada, como se não me tivesse reconhecido, como se eu fosse uma ilustre desconhecida que viera importuná-la. Isso fez minhas pernas tremerem, achei que eu fosse perder os sentidos. No entanto, o som das sílabas de meu nome seguido do calor do abraço que recebi acalmaram-me. Continuávamos as mesmas.
Foi-me conduzindo para dentro como se a última vez que nos víramos tivesse sido no dia anterior. Perguntei pela mais moça. Nada me foi respondido. Apenas caminhávamos de mãos dadas por toda a casa. Tudo era lindo e romântico. Eu estava completamente feliz. Subimos as escadas, meus joelhos doíam. Cruzamos um hall e paramos diante de uma porta aberta. Lá estava ela: a pequena! Sim, continuava a pequena de sempre, com seu rosto alegre e seus olhos vivos. Deu um belo sorriso ao me ver, levantou da poltrona onde bordava junto à janela e veio ao meu encontro. Não disse palavra alguma e me abraçou. Havia nela também os traços dos obstáculos que a vida lhe preparara, porém, também nela, o que sobressaía era o que emanava de seu interior doce e bondoso.
Voltamos as três para a sala de estar, tomamos um chá, conversamos sobre passado, presente e futuro. Na hora de ir, convidaram-me para ficar. E eu fiquei. Fiquei ali, no casarão de porta e janela na calçada, na pequena vila, com minhas amigas, sendo plenamente feliz!
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