Entrei! Ainda bem que os porteiros estavam conversando, não me viram. Sempre tive uma curiosidade enorme. Vejo tanta gente passar para cá de carro, de bicicleta, a pé. E muitos levando cachorrinhos! São tantas ruas, tantas casas. Aquilo ali parece um clube. É, tem umas mulheres, moças bonitas, jogando o tal de paddle. Não vou parar. Os jardins são bem cuidados, tudo limpo. Estou curioso para dobrar numa destas vielas e descobrir se tem algo mais interessante ainda. Na verdade, estou me cansando, acho que estou com fome. O sol está tão quente!
Esta rua me parece legal. Vou ver! Engraçado! As casas são bonitas, mas todas parecidas. Se eu morasse por aqui me perderia seguido. Cachorrinho da madame preso pela guia numa varanda, olhando para mim. Não adianta latir. Não tenho medo de ti. Nesta outra agora um gato preto metido. Olha só! Tem um colar de strass! Muita frescura! Nem se mexe, atirado no ladrilho, provavelmente, geladinho. Até que tem sorte! Eu não gosto de felinos, são sempre preguiçosos. Ora! Não tem saída, tenho de voltar.
Nossa! Que gatinha! Quer dizer, que cadelinha gatinha! Será que ela vai latir? Vou tentar chegar perto. Está vindo em minha direção, que emoção! Está me cheirando, examinando. Vou ficar bem quieto para ela não se assustar. Ai, meu Deus, está se esfregando nas minhas pernas. Acho que gostou de mim. Vou fazer carinho nela. Assim! Viu! Fechou os olhinhos redondos quase tapados pela franja. Gostou! Alguns bichinhos dessa raça andam com um pregador ou lacinho, segurando os pelos para cima. Esta aqui está bem charmosa e sexy. Hum, a sacudidinha de cabeça que deu agora me conquistou. Como será o nome dela?
"Bebê, vem pra dentro! Não te metas com estranhos!"
Ela foi, porém, de vez em quando, parava e dava uma olhadinha para mim. Caminhava dando uma requebrada. Uma danada! Eu não tirava os olhos dela, estava apaixonado. Tinha esperança de nos tornarmos pelo menos amigos. Minha ela nunca seria. De repente a coisinha linda voltou correndo em minha direção. Eu pensei: "Ela quer ser minha!" No entanto, a Bebê tinha dona e era braba a mulher.
"Bebê! Volta! Não te esfregues neste sarnento!"
O sarnento era eu? Será? Será que estou com sarna? Uma vez me olhei na vidraça de uma vitrina e me achei até bem bonitinho. Sou preto, pequeno, estou magro, muito magro. Mas sarnento? Já tive um dono. E era bem tratado, até mais gordinho. Não sei direito o que aconteceu. Será que me perdi? Eu saí com seu Inácio. Ele abriu a porta da carro. Fiz xixi e nunca mais o vi. Achei que por aqui alguém me quereria. Acho que não. Parece que só a Bebê me quer. Olha só como passa a língua em mim! Que felicidade!
"Bebê! Mas que teimosa! Vou te pegar e colocar a guia! Não quero que pegues doenças destes vira-latas!"
A moça veio, pegou a minha Bebê e a levou para dentro de casa. A minha cadelinha gatinha foi para uma das janelas e ficou me olhando. Olhando para mim! Um cachorro sarnento, vira-latas e sem dono!
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