Acordou assustada. Não era nada. Foi ao banheiro e voltou a dormir. O monstro voltou junto e começou a atormentar. Ele era grande, muito alto e fedia. Cheiro de gente sem banho. Cambaleava, falava coisas sem nexo. O que ele quer comigo, pensou. O sono retornou mais profundo, e ela sorria. O ser devia ter ido embora.
Levantou, o coração batia mais forte do que nunca. Estou tendo um ataque do coração! Não! Caminhou normalmente pela casa, o dia estava dando início aos trabalhos e mostrava que estaria iluminando aqueles que com ele se importavam. O dia! Quanta gente não tem a menor ideia de como nos traz alegria, como nos presenteia com tempo, deixa-nos ver tudo claramente, enobrece e nos faz feliz. Chegou à cozinha! Levou um susto.
O monstro lá estava, forte e frágil, amedrontador e carente. Ela faz meia volta. Voltaria a dormir. Talvez em sono ele não existisse. Ou seria o contrário? Deu alguns passos, parou no meio do corredor. Nada ouviu. Ele agora parecia morto. Não faz ruído algum, não está me ameaçando! Virou-se e ficou por um instante observando aquele corpo enorme e doce. Ele não se movia, estava sentado no chão, encostado à parede, com a cabeça entre as pernas. Ela deu alguns passos, segurou-se no batente da porta, estava se sentindo fraca, tão fraca quanto ele, aquele ser, real ou imaginário, já não sabia mais nada. Apavorou-se, lágrimas desceram-lhe pelo rosto cansado e tomavam o rumo dos sulcos que a idade havia lhe cavado. Esfregou as mãos pela face, firmou as pernas, respirou fundo e dirigiu-se a ele.
Agachou-se ao seu lado, levantou-lhe a cabeça, viu que respirava, porém nenhuma reação tivera. Inofensivo o animal. Pegou-o pelos braços, apoio-o nos ombros e carregou-o pela casa, arrastando-lhe os pés. Nem ela mesma acreditava no que estava fazendo. O monstro, naquela situação, apesar de dizerem "peso morto" para o que pesa muito, estava leve, leve como um bebê recém nascido, leve como uma folha frágil que se deixa levar pelo vento. Deitou-o! Agora ele está lá ainda. Uma criança de quem ninguém deve ter medo, uma criança para quem se deve dar amor, uma criança que esqueceu de crescer.
Que peninha! Tadinho dele. Precisava, mesmo, era de um carinho.
ResponderExcluirQuerida, adorei. Aliás, sou tua fã. Beijos.