sábado, 18 de fevereiro de 2012
Perda!
Todos os dias ele chegava à janela da sala e dali apreciava aquela linda árvore que o acompanhava desde que era um garotinho. Nada o fazia mais feliz, nada o tranquilizava mais do que acompanhar o dançar de suas folhas ao som do vento. Quantas vezes a agonia de seus medos era dissipada só em contemplar as raízes dela se agarrando com unhas e dentes à terra como se dali nunca mais quisesse sair.
Hoje, ele acordou sobressaltado, assustado com um barulho ensurdecedor. Com dificuldade, colocou saus pernas para fora da cama, pegou o copo de cima da mesinha de cabeceira e tomou a água que ali estava toda a noite. Chamou a senhora que trabalhava para ele, mas provavelmente ela não ouvira por causa do ruído estridente e contínuo que o acordara. Decidiu arrumar-se sozinho, por mais dificuldade que tivesse.
Fez-se silêncio na rua, e dona Joana, que cortava cebolas na cozinha, parou o seu afazer induzida pelo ruído que vinha do corredor. Ao chegar à porta, avistou seu patrão. Algo estava precisando de reparos, de ajustes. Viu-o de costas, dirigindo-se para a sala. Com certeza, já ia para a janela olhar a sua árvore.
O sol, que àquela hora já estava meio alto, feriu-lhe os olhos. Como? Onde estavam os galhos pesados e cobertos de folhas verdes que davam a sombra que amaciava as suas preocupações, as suas perdas, as suas aflições. Homens haviam terminado com tudo, as raízes dela ameaçam o prédio onde morava, o prédio onde habitavam, os seus problemas, as suas saudades, as suas lembranças.
Tudo termina! Um dia, esse meu corpo se terminará, essa minha cadeira deixará de andar, tudo virará cinzas nas memórias alheias.
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Lourdes, sempre bom ler teus textos, pelo simples prazer de ler. Parabéns Lourdes, estou aqui assistindo passo a passo a tua tragetória e sempre me orgulha de estar estar participando. Beijos
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