sábado, 5 de maio de 2012
Um dia azul
O azul tomava conta de tudo. O céu, naquele dia, havia acordado num tom iluminado e exuberante. Nem uma nuvenzinha, nem uma manchinha, nem o sol conseguia-se enxergar de onde estávamos. A cadeirinha de praia, confortável, sustentava docemente o corpo dela, vestida também de azul, a combinar com os grandes, mas cegos olhos. Olhos estes escondidos atrás de um par de óculos escuros presenteados por seu sobrinho. Ele também ali estava, de calção listrado de branco, preto e azul, corpo nu e brilhante de suor, numa mão um pano de algodão azul e noutra uma esponja ensaboada... azul. Eu, com meu abrigo e tênis, que ganhara da prima que viajara a Nova Iorque, mais o boné emprestado de meu filho mais velho, tudo azul, aguardava o término do trabalho. Sim, eu chegara ao lugar por volta das dez horas, aguardara um pouco, e, em seguida, o rapaz havia começado o trabalho. Ele ali ganhava o pão de cada dia sob o calor do sol, sob as gotas da água. Ela, sua tia cega, sem ter onde ficar, com ele passava o dia a aguardar o final do dia quando, de mãos dadas, voltavam à casinha de madeira pintada de azul, conforme relato da anciã. Na ansiedade de mulher executiva e quase hiperativa, eu caminhava de um lado ao outro do local, podendo até dizer a metragem do terreno. Fui observando as mudanças de empoeirado para molhado, de molhado para ensaboado, de ensaboado para molhado de novo e mais molhado e, finalmente, vi o pano azul alisar, alisar, alisar até tirar a última gota de água de meu carro...vermelho.
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