sábado, 28 de abril de 2012

Da minha janela

Da minha janela, vejo muitas coisas: edifícios, telhados, janelas, um pedacinho do Guaíba, antenas, chaminés, copa de árvores. Porém, hoje, a moldura de tudo isso é um céu acinzentado, o que deixa tudo mais triste, mas eu não estou assim. A minha curiosidade não deixa que esse sentimento tome conta de mim, então, ao longe, destaca-se, entre outras, uma luz, mais forte, mais amarelada, mais viva. Sim, porque a luz pode ter vida, e eu vejo a vida crescendo através de meus olhos, através da minha imaginação. E lá, de dentro daquela luz surgem uma mulher e um homem, amantes, carinhosos, alegres. Aparece-me um menino ranhento, que mal consegue dar os primeiros passos, com as fraldas frouxas de tanto xixi, cambaleando feito um bêbado, mas com um sorriso largo de satisfação. Vejo também um cachorrinho pequeno, peludo, branco com fitinhas nas orelhas, que não para de pular do sofá para uma poltrona, desta para outro sofá, deste para a cadeira de balanço, e seus olhinhos esbanjam divertimento. Avisto agora a doméstica que, terminado o serviço da semana, se enfeita para ir curtir o sábado e o domingo junto ao amado, dançando, cantando, bebendo, conversando se amando. O telefone toca aqui, e eu atendo. A conversa se estica, as novidades são ditas e ouvidas, não olho mais para fora da janela. O tempo passa, ouço a minha voz, ouço a voz da minha amiga, emociono-me com minhas gargalhadas. Desligo o aparelho e vou até a janela. Não mais há a luz, mas tudo que ela me fizera ver continua iluminado dentro de mim.

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