quarta-feira, 20 de junho de 2012

Cálcio

Ela entrou na casa de sua amiga e viu, na cozinha, na prateleira, acima da pia, aquele vidro. Imediatamente, como se fosse transportada para um passado distante se viu entrando no restaurante do pequeno hotel. O sol entrava pelas inúmeras janelas, o sol do entardecer. Era quase hora do jantar. Correu, seguida de seu primo, dois anos mais velho, e de seus pais. Acomodaram-se à mesa, sempre a mesma, à esquerda, encostada à parede de madeira. Como se colocasse uma foto em zoom, visualizou as mãos da mãe pegando o vidro de conteúdo branco, abrindo a tampa e enchendo uma colher de sopa com o granulado que ali estava acondicionado. Viu a colher se virando para ela, ficando cada vez maior, sentindo cada vez mais forte aquele cheiro. Apertou os lábios como se quisesse que não mais abrissem e fechou bem os olhos, como se aquela atitude pudesse evitar o sofrimento. Não, não podia. O som da voz de sua mãe mandando que ela abrisse a boca foi o empurrão que precisava. Automaticamente abriu os olhos e a boca e aquela enorme colher entrou. Os grãozinhos amargos e "fedorentos" pareciam aumentar ao toque da língua úmida da saliva criada em abundância, não sabia ela se de nojo ou se de medo. Mas que ajudava, ajudava. Engoliu quase que de uma só vez a fim de que o sacrifício terminasse logo. Olhou para o lado e viu a cena se repetir com seu primo. Voltou ao presente com sua amiga perguntando o que tinha acontecido. Então ela contou que ao ver o vidro de cálcio, lembrou de quando era obrigada a tomar durante os veraneios em algum hotel à beira de alguma praia. Devia ser pela fixação que o sol proporcionava.

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