sexta-feira, 6 de junho de 2014

Um pequeno conto brasileiro

São Luís do Maranhão
        Todos os dias Raimundo, no final da tarde, mesmo cansado do dia inteiro de trabalho, vinha buscar sua namorada que trabalhava no Cantinho do Artesanato. Ali ela era atendente. vendia desde pequenos objetos de decoração até vestidos e camisas.
        Ele era um rapaz simples, trabalhador, quieto, quase envergonhado, podia-se dizer. Não era de muitas palavras. Fora criado por seus padrinhos, já que os pais ficaram na roça. Ali, na cidade conheceu Ruth e por ela se apaixonou. Nunca mais olhou para moça alguma. Estava focado no seu futuro: casar e ter filhos com ela. A moreninha baixinha, espevitada, de pernas finas, lábios grossos e cabelos longos havia preenchido o coração dele.
        Ela morava na periferia, porém sempre buscou serviço no centro. Não gostava das coisas simples. Achava que tinha direito a mais, muito mais. Conversava com os clientes da loja, a maioria turista e encantava-se com o que via, ouvia. Quando aparecia um estrangeiro, e isso era bem comum, ela tentava comunicar-se com o pouco Inglês que tinha. E sonhava. Seus olhos brilhavam, remexiam-se , olhando para o infinito em momentos só dela. O patrão, às vezes, tinha de acordá-la de seus devaneios para fazê-la voltar ao trabalho. À tardinha, quando o sol se punha, e a rua ficava dourada, ela saía e encontrava Raimundo, que atravessava a rua e colocava Ruth embaixo do braço direito. Era assim que ele gostava, e ela apreciava o carinho dele. Ele ia falando sobre o terreno que vira, sobre quando iniciar a construção da casinha, como conseguir um empréstimo. Ela ouvia tudo sem contestar, só sorria.
        Naquele dia de outubro, o rapaz fez o que sempre fazia. Encostou-se à parede da casa em frente ao Cantinho do Artesanato, e ali ficou. Ficou por bastante tempo, mais do que o normal. A noite chegou e o abraçou como se previsse a tristeza que iria tomar conta dele. Mesmo recheado de timidez, ele criou coragem e, passo a passo, foi lentamente atravessando a rua. Alcançou a calçada, visualizou o patrão da amada. O homem recolhia as mercadorias  expostas, guardava tudo, fechava a loja. Raimundo criou coragem e, sem levantar a cabeça, perguntou por Ruth.
        "Ruth? Não sabe? Foi-se hoje com um alemão que apareceu aqui na semana passada e que caiu de amores por ela!"
     

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