sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Ao som de um tango

A casa era um agito só. Nada lembrava o casarão calmo e silencioso de sempre. As empregadas corriam de um lado para o outro. As crianças passavam correndo pelos aposentos, dando gritinhos indefiníveis. Gente chegava com malas, caminhonetes traziam bebidas e comidas. Garçons já preparavam as mesas com toalhas brancas no jardim. Flores por todos os lados. Os cachorros latiam lá no pátio dos fundos enquanto dentro um tango tomava conta do ambiente. Era o noivo. Ele amava tangos, era um viciado na dança. Depois que sua primeira mulher se foi, ainda muito moça, sem ter-lhe dado filhos, ele espantou a tristeza e a solidão, frequentando festas e bailes. E foi num destes dias que conheceu Rita, a moça de belas e ágeis pernas, de cintura fina e corpo perfeito. Ela dançava muito bem. E isso o encantou. Em pouco tempo, tornaram-se um par constante. A vida se encarregou de deixar que os laços deles fossem se reforçando, e ele quis casar com ela. Rico, bonito, elegante e bom dançarino. Pretendente igual não existia. Tudo para o evento foi preparado, os convites entregues, um novo enxoval comprado para a casa, mais serventes contratados e todos orientados para, agora, ter Rita como patroa. A tardinha chegou, os convidados desceram ao jardim em trajes de recepção, o vigário da Igreja local se postou junto ao altar engendrado. Embaixo do caramanchão de rosas uma orquestra de câmara tocava... tangos. O noivo... lindo! O tempo foi passando, e a ansiedade tomou conta de todos. A noite inundou todos os cantos, a música foi silenciando, os convidados se retirando, e o noivo trancou-se no seu quarto. Completo silêncio, total escuridão. Bem longe dali, em outra cidade, em outra festa, os cabelos de Rita voavam ao som de um... tango.

Nenhum comentário:

Postar um comentário