quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Processo Metamorfósico

O calor cobre a minha cidade, a minha rua, o meu apartamento. Tudo parece pegar fogo. Esta temperatura não era esperada nesta época do ano. Tudo parece estar sofrendo uma metamorfose, mas eu continuo aqui, o mesmo, o chato, o cheio de manias, o que não aguenta que mexam numa mínima coisa que me pertence. Não posso ver um quadro torto, o som além de um volume normal para o ouvido do ser humano me leva à irritação. Sempre vivi assim, nunca achei que me fazia mal. Mas este calor úmido, nojento, melequento está fazendo com que não me movimente para não piorar a sensação de que vou me derreter. Só o que posso fazer é pensar e estou pensando em mim porque, se pensar em outra pessoa, sei que vou acabar me enervando pois acharei defeitos que me atucanam. Porém, ao meditar sobre mim mesmo, dou-me conta de minhas manias insuportáveis, anti-sociais, devastadoras. E o calor parece aumentar! Será realmente a temperatura ou o meu corpo reagindo contra mim mesmo? Ai, quanto está me incomodando esta constatação de que posso não ser o que pensava ser. Isto está me corroendo, terminando comigo. Olho para meus pés, onde estão os dedos, as unhas? Olho para meus braços, vejo gotas do que restou de minhas mãos, pingando no tapete vermelho da sala. Vou ao banheiro, olho-me ao espelho e ainda consigo ver um olho escorrendo pelo rosto enquanto pinga a última gota da orelha esquerda derretida. Saio andando pelo corredor e vejo-me inundando o chão, penetrando nas frestas, preenchendo cantinhos...e, neste processo de identificação metamorfósica climática, dou-me conta: eu não sou mais!

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