domingo, 19 de janeiro de 2014

O meu nome

Ontem todos me queriam! Dos bebês que a mim vinham, mesmo engatinhando, aos idosos. Quantas bolinhas e, até, bolas maiores, de vôlei ou de futebol, acabavam batendo em mim, mas eu não me importava, sabia que estavam brincando, sabia que estavam se divertindo. Ah, como é bom ter uma boa aparência, estar calmo, e o dia propiciar que eu brilhe, que eu refresque aqueles que por mim passam e que apreciem meus movimentos. Quanta gente havia ontem! Quanta gente trazendo seus amores, suas crias, seus sonhos para junto de minhas carícias, para junto de meu frescor, para junto de minha alegria. Sim,  ontem eu transmitia alegria! Dava alegria, alegria pura e incondicional. Nada pedia em troca. E eu era feliz!
Hoje ninguém me procura! Por quê? Onde está o vai-e-vem das crianças, tentando tirar de mim o meu melhor? Onde se escondeu aquele que tanta luz me dá e me embeleza? Onde está o colorido que tanta felicidade dá aos meus olhos? Onde está aquela velhinha que sempre coloca sua cadeira perto de mim e nela senta por horas, muitas vezes, deixando transparecer um leve sorriso, com certeza, provocado pelas lembranças que eu acabo fazendo voltar a sua mente talvez já meio fraca. Ela não sabe, mas me faz feliz! Por que as moças que me levam, ao abraçar seus corpos quase nus, a  sentir-me  jovem não vêm agora? Hoje estou triste. Hoje pareço feio.
Será que as pessoas que tanto me amam num dia, ou mesmo, por alguns dias, só porque agora meu visual está diferente desistem de estar por aqui, no meu lugar? Eu não posso ir até elas. Eu não consigo ir além dos meus limites e, quando tento isso, sou mal interpretado, acham que estou revoltado, que estou embriagado. Realmente, às vezes, exagero, fico meio sem jeito e não consigo me controlar. Acabo fazendo mal a quem tanto amo. Amo, amor, amar, mar, o mar! É isso, meu nome é do gênero masculino, o mar, juntando fica também um nome de homem, Omar e não expressa o meu verdadeiro sentimento. Ah, como eu queria que meu nome representasse toda a minha emoção, que o meu nome mostrasse o sentido das minhas ações. Queria ser do gênero feminino, a mar. Com certeza, não me interpretariam mal pois, ao falarem, diriam AMAR!


(Texto escrito no dia 03 de janeiro de 2014, à vista do mar, num dia nublado.)

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