Ontem todos me queriam!
Dos bebês que a mim vinham, mesmo engatinhando, aos idosos. Quantas bolinhas e,
até, bolas maiores, de vôlei ou de futebol, acabavam batendo em mim, mas eu não
me importava, sabia que estavam brincando, sabia que estavam se divertindo. Ah,
como é bom ter uma boa aparência, estar calmo, e o dia propiciar que eu brilhe,
que eu refresque aqueles que por mim passam e que apreciem meus movimentos.
Quanta gente havia ontem! Quanta gente trazendo seus amores, suas crias, seus
sonhos para junto de minhas carícias, para junto de meu frescor, para junto de
minha alegria. Sim, ontem eu transmitia
alegria! Dava alegria, alegria pura e incondicional. Nada pedia em troca. E eu
era feliz!
Hoje ninguém me procura!
Por quê? Onde está o vai-e-vem das crianças, tentando tirar de mim o meu
melhor? Onde se escondeu aquele que tanta luz me dá e me embeleza? Onde está o
colorido que tanta felicidade dá aos meus olhos? Onde está aquela velhinha que
sempre coloca sua cadeira perto de mim e nela senta por horas, muitas vezes,
deixando transparecer um leve sorriso, com certeza, provocado pelas lembranças
que eu acabo fazendo voltar a sua mente talvez já meio fraca. Ela não sabe, mas
me faz feliz! Por que as moças que me levam, ao abraçar seus corpos quase nus, a sentir-me jovem não vêm agora? Hoje estou triste. Hoje pareço feio.
Será que as pessoas que
tanto me amam num dia, ou mesmo, por alguns dias, só porque agora meu visual está
diferente desistem de estar por aqui, no meu lugar? Eu não posso ir até elas.
Eu não consigo ir além dos meus limites e, quando tento isso, sou mal
interpretado, acham que estou revoltado, que estou embriagado. Realmente, às vezes, exagero, fico
meio sem jeito e não consigo me controlar. Acabo fazendo mal a quem tanto amo.
Amo, amor, amar, mar, o mar! É isso, meu nome é do gênero masculino, o mar,
juntando fica também um nome de homem, Omar e não expressa o meu verdadeiro
sentimento. Ah, como eu queria que meu nome representasse toda a minha emoção,
que o meu nome mostrasse o sentido das minhas ações. Queria ser do gênero
feminino, a mar. Com certeza, não me interpretariam mal pois, ao falarem,
diriam AMAR!
(Texto escrito no dia 03 de janeiro de
2014, à vista do mar, num dia nublado.)
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